Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso do Kit de robótica começa e termina em Lira

Colunista do UOL

13/04/2022 10h08

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Enquanto a tropa governista brinca de CPI no Senado, a imprensa traz à luz os podres do MEC que os órgãos de controle se abstiveram de detectar. Notícia da Folha revela a penúltima novidade: prefeituras de Alagoas pagaram R$ 14 mil por kits de robótica disponíveis no mercado paulista pela bagatela de R$ 2.700. O sobrepreço de 420% foi empurrado para dentro da contabilidade das prefeituras por uma empresa de Maceió. A firma atravessadora chama-se Megalic. Um dos sócios é Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda, aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira.

O círculo vicioso se fecha: Lira distribui as verbas do orçamento secreto. Parte do dinheiro vai para prefeituras por meio do Fundo Nacional de Educação, o FNDE. Ali, Marcelo Ponte, um preposto do centrão, azeita a liberação dos recursos reservados à compra de kits de robótica para escolas que não dispõe nem de sala de aula nem de água potável. E os prefeitos aquinhoados compram a inutilidade da empresa do filho de um aliado de Lira. Aceitam graciosamente o sobrepreço.

Simultaneamente, encena-se no Senado um teatro ensaiado com o Planalto. O senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL, o partido de Bolsonaro, apresentou um pedido de CPI para investigar obras paradas entre os anos 2006 e 2018. O calendário atravessa três governos: Lula, Dilma e Temer. O requerimento atraiu o apoio de 28 senadores, um além do mínimo necessário.

A iniciativa tem um caráter cenográfico. Foi concebida como contragolpe à tentativa da oposição de colocar em pé uma CPI sobre os escândalos do MEC. O esforço do Planalto revela-se insuficiente, pois o apodrecimento da pasta da Educação não para de crescer.

O Planalto sabotou a CPI do MEC sob a alegação de que Comissão Parlamentar de Inquérito não pode ser usada como palanque. A essa altura, a conversão da CPI em palanque seria uma bênção. Em período eleitoral, o palanque é a instituição mais nobre da democracia. É nele que os políticos sobem para fazer promessas e criticar os adversários.

As duas CPIs —a oposicionista e a hxpa branca— deveriam ser fundidas numa única comissão. Seria batizada de CPI da Polariozação. Nela, Bolsonaro poderia provar, com o auxílio de gente como Arthur Lira, que não há corrupção no seu governo. Aproveitaria para explicar por que não remeteu ao Ministério Público nos últimos três anos e quatro meses os malfeitos que enxerga nas administrações anteriores.