Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Reajuste de servidores é uma granada de Bolsonaro no bolso de Paulo Guedes
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Paulo Guedes perdeu mais uma. Na semana passada, disse que um "reajuste salarial para todo mundo" poderia "destruir a nossa economia". Decorridos seis dias, foi abordado na saída do Ministério da Economia por repórteres que queriam confirmar a decisão de Bolsonaro de reajustar os salários de todo o funcionalismo federal em 5%. "Parece proceder", balbuciou. É preciso dar algum tempo para Guedes elaborar o seu discurso. Ele muda logo, radicalmente, qualquer teoria nociva ao único plano que realmente interessa a Bolsonaro: a reeleição.
Inicialmente, o presidente cogitou premiar apenas as carreiras policiais. Suou o paletó para que o Congresso reservasse R$ 1,7 bilhão no Orçamento federal para o afago à sua categoria de estimação. Ateou fogo no restante do serviço público. Optou, então, pelo reajuste generalizado de 5%, considerado mixuruca por 100% dos servidores.
Bolsonaro humilhou seu ministro, decepcionou o funcionalismo e produziu uma lambança que custará R$ 6,3 bilhões ao contribuinte apenas em 2022. Incluindo-se na conta as carreiras do Judiciário, do Legislativo e do Ministério Público, a conta sobe para R$ 7,9 bilhões. Não é que o reajuste seja imerecido. A questão é que falta dinheiro. Será necessário cortar pelo menos R$ 4,6 bilhões de um orçamento que, além de não cobrir o essencial, continua saindo pelo ladrão que o orçamento secreto implantou nos cofres públicos.
Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, aquela cujo vídeo veio à luz por ordem do então decano do Supremo Celso de Mello, Paulo Guedes referiu-se ao congelamento dos reajustes salariais dos servidores por dois anos como uma "granada que nós botamos no bolso do inimigo". O reajuste de 5% é uma granada que Bolsonaro enfia no bolso do seu ministro. O presidente não está só. Os reajustes se disseminaram pelos estados. Custarão mais de R$ 30 bilhões. Noutros tempos, Guedes dizia que, contrariado, pegaria o avião e iria "morar lá fora". Hoje, prefere se deixar explodir a contrariar Bolsonaro.
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