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PSDB vive em 2022 o seu ocaso melancólico
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Durante um quarto de século, o PSDB polarizou com o PT as disputas presidenciais. Há duas décadas, vem amargando derrotas sucessivas. Desde que Bolsonaro implodiu o centro, em 2018, o tucanato girava ao redor da cova. Pulou no buraco no ano passado, ao transformar a realização de prévias para a escolha do seu presidenciável num processo de mutilação partidária. Neste ano de 2022, os tucanos dedicam-se a jogar terra em cima de si mesmos. João Doria, candidato da legenda ao Planalto, ameaça recorrer ao TSE para assegurar o resultado das prévias, terceirizando à Justiça Eleitoral o lançamento da última pá de cal sobre um PSDB que já deixou de existir.
Há quatro anos, o PSDB, antigo Partido da Social Democracia Brasileira, ganhou uma aparência de Partido da Sociedade de Doria com Bolsonaro. Hoje, transitando entre a insignificância e a irrelevância, o aglomerado pode ser chamado de Partido da Sabotagem ao Doria e da Barganha. Para se livrar de um candidato com apenas 3% nas pesquisas, a Executiva do PSDB negocia com o MDB a troca do seu espólio partidário pela indicação de um vice na chapa de Simone Tebet, que soma 1% nas sondagens eleitorais.
Para justificar a troca de nada por coisa nenhuma, a ala do PSDB avessa a Doria acertou com o pedaço do MDB que foge da adesão a Lula já no primeiro turno a realização de pesquisas para comprovar o que o mundo já sabe: a taxa de rejeição de Simone Tebet é menor que a de João Doria.
Por trás da manobra esconde-se a intenção de retirar Doria e a bola de ferro de sua rejeição dos calcanhares de Rodrigo Garcia, o candidato do PSDB que rala nas pesquisas da corrida pelo governo de São Paulo numa quarta posição, atrás de Tarcísio de Freitas, o carioca que Bolsonaro fabricou como alternativa para os paulistas.
Tucano com bico bolsonarista, Aécio Neves pisoteou com pés de lama o resultado das prévias vencidas por Doria. Tentou empinar a candidatura presidencial do derrotado Eduardo Leite. Deu em nada. De repente, Aécio passou a defender o direito de Doria à cabeça de chapa. O problema não é a presença de Aécio no debate interno. O que desqualifica a cena é que um personagem tão desqualificado encontra quem lhe dê ouvidos no PSDB.
Num prenúncio do que está por vir, Doria gritou "golpe!". E passou a se comunicar com o presidente do PSDB, Bruno Araújo, por meio de um advogado. Contratou Arthur Rollo para defender os seus interesses. Neste sábado (14), o doutor Rollo endereçou ao comando do PSDB ofício no qual realça que as prévias estão de pé, sinalizando que Doria esgotará "todas as forças para fazer prevalecer a vontade democraticamente manifestada pela imensa maioria dos filiados do PSDB".
Nos subterrâneos, Doria avisa que, se for preciso, não hesitará em recorrer à Justiça. Em resposta, Bruno Araújo convocou para terça-feira nova reunião da Executiva Nacional do PSDB. Submeterá a carta do advogado de Doria à análise do mesmo colegiado que aprovou o "golpe" que transforma o tucanato em coadjuvante do MDB.
O ocaso do PSDB é marcado por um detalhe mórbido. Julgando-se traído pelo híbrido Bolsodoria há quatro anos, Geraldo Alckmin, o tucano que governou São Paulo por mais tempo desde o Império, mudou de legenda. Levou os signos do antigo PSDB para o PSB. Aninhando-se na vice de Lula, deu ao presidenciável do PT um aroma de terceira via que leva o petismo a sonhar com uma vitória de primeiro turno.
Encostando sua biografia nos palanques de Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB), Alckmin conspira a favor do fim de uma hegemonia de 28 anos do PSDB no berço paulista da legenda. O ocaso do PSDB não poderia ser mais melancólico.
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