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Jair Bolsonaro sequestrou agenda oposicionista
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Bolsonaro já toca o bumbo da PEC eleitoral que lhe permitirá enfiar dinheiro no bolso de brasileiros pobres na reta final da campanha. Numa corrida presidencial em que o humor do eleitor é azedado pela carestia e a fome, isso tende a favorecer o presidente. A pergunta de R$ 41 bilhões é a seguinte: a empulhação será suficiente para levar o capitão ao segundo turno? Ou ainda: o que Lula tem a oferecer além do discurso segundo o qual todas as respostas estão disponíveis na vitrine dos seus dois mandatos no Planalto?
Nos últimos dias, enquanto Lula ouvia nas mesas do empresariado paulista cobranças para que beije a cruz do rigor fiscal, Bolsonaro sequestrava a agenda social da oposição no Congresso. Foi presenteado pelos senadores com autorização para aumentar o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás, socorrer caminhoneiros e taxistas, pagar o transporte de idosos e reforçar o Alimenta Brasil, programa de distribuição de alimentos. Os deputados estão na bica de avalizar o surto populista.
Detestar Bolsonaro, abominar as motociatas ou ter horror à sua pregação contra o sistema eleitoral pode compor um bom lote de desabafos. Mas nada disso constitui uma reação à altura da distribuição de dinheiro. Bolsonaro fabricou um estado de emergência para ajustar a Constituição e as leis às suas conveniências. Invadiu os cofres do Tesouro usando o brasileiro pobre como escudo humano. A oposição perdeu o direito à crítica ao votar a favor da politicagem no plenário do Senado. Repetiu a dose na comissão especial da Câmara. Fará o mesmo no plenário.
A redução do ICMS tirou dinheiro da Saúde e da Educação. Mas reduziu o preço dos combustíveis na bomba. A cotação do petróleo cai no mercado internacional. Se a Petrobras rebaixar a sua tabela, Bolsonaro fará comício em posto de gasolina.
Todos sabem que os mimos têm prazo de validade. O Bolsonaro em versão social é tardio e vai virar abóbora à meia noite do dia 31 de dezembro. Depois do Réveillon, a bomba do populismo explodirá na contabilidade de 2023. Antes, porém, o eleitor pobre irá à cabine eleitoral de outubro com uma mixaria a mais no bolso.
Neste sábado, discursando num comício em Diadema, Lula acusou o golpe: "O conselho que eu quero dar para vocês é o seguinte: se o dinheiro cair na conta de vocês, peguem. E compra o que comer. Na hora de votar, dê uma banana neles e votem para a gente mudar a história desse país." Logo terá de dizer algo diferente: "Eleito, recriarei o Bolsa Família, mantendo o valor de R$ 600,00."
Lula estava 19 pontos à frente de Bolsonaro no Datafolha divulgado no mês passado. Um favoritismo desse tamanho não se dissolve facilmente. Mas a perspectiva de vitória do petista no primeiro turno, esboçada na mesma pesquisa, tende a desaparecer. Com a ajuda da oposição, Bolsonaro colocou um pé no segundo turno.
Lula precisa descer do salto alto para a planície. O ar rarefeito da altitude o deixou zonzo. Demora a executar o movimento. Confirmando-se o segundo turno, a disputa será sangrenta. O que vem por aí não é uma campanha eleitoral, mas uma carnificina. Em desvantagem, Bolsonaro promoverá uma guerra suja, forçando o revide do petismo. O estoque de munição é farto nas duas trincheiras.
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