Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comparado com Bolsonaro, Lula prevaleceu de goleada no jogo de cena do JN

Colunista do UOL

26/08/2022 05h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Lula estava em casa no Jornal Nacional. Não falou para os entrevistadores. Usou as perguntas de William Bonner e Renata Vasconcellos como trampolins para mergulhar no inconsciente da audiência. Comportou-se na bancada do telejornal como anfitrião de um churrasco na laje. A certa altura, expôs o cardápio: "O povo tem que voltar a comer uma picanha e tomar uma cervejinha." Fez troça do rival ao formular uma espécie de tradução para "tchutchuca do centrão", a expressão da moda. "O Bolsonaro parece o bobo da corte".

Comparado com o zero a zero celebrado por Bolsonaro, Lula prevaleceu de goleada no jogo de cena dos estúdios da TV Globo. Falou mal do adversário e bem de si. Reconheceu erros e crimes. Mas jogou a culpa nos outros. O que parecia ser uma canelada de Bonner —"Vamos começar falando de corrupção"— revelou-se uma levantada de bola —"O senhor não deve nada à Justiça". Dispensado do exame da prescrição dos crimes expostos nas sentenças anuladas do tríplex e do sítio, Lula fez dois gols com uma única cabeçada.

Posou de vítima: "Fui massacrado". E estalou de pureza moral: "A corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada." Esculachou a Lava Jato sem parecer vingativo. Contrapôs as perversões petistas ao escracho bolsonarista. "Você acha que o mensalão é mais grave que o orçamento secreto?" perguntou a Renata Vasconcellos. Bolsonaro facilitou a vida do rival. Ex-sócios de desvios petistas, Valdemares, Liras e outros azares hoje plantam bananeira dentro do orçamento federal. O que permite a Lula prometer a refundação da República.

Livrando-se da bola de ferro da corrupção, Lula emplacou o seu 7 a 1. Criador do mito da gerentona, acomodou todas as culpas pela ruína do governo Dilma sobre os ombros de sua criatura. Para convencer Bonner de que não apitava nada na gestão da madame, disse que o apresentador entenderá o sentido da expressão "rei morto, rei posto" quando deixar o Jornal Nacional. Pintado por Bolsonaro como fantasma vermelho, fustigou as ditaduras companheiras de Cuba e China. Contra o esforço do rival para ressuscitar o antipetismo de 2018, Lula enalteceu inúmeras vezes o ex-rival Geraldo Alckmin, seu vice padrão Opus Dei.

Ainda não se sabe se o favorito das pesquisas prevalecerá nas urnas. Mas a comparação proporcionada pelo Jornal Nacional fez de Lula o candidato favorito à melhor encenação de 2022. Identificado com a Idade Média, Bolsonaro deu a Lula, político que já se definiu como "metamorfose ambulante", uma aparência de Renascimento.

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em três edições: 8h, 12h e 18h, sempre ao vivo.

Quando: de segunda a sexta às 8h, 12h e 18h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL. Veja a íntegra do programa: