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Milícia cresce coligada com política e polícia
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O crime, como se sabe, mora perto. A Justiça, ao contrário, mora longe. No caminho entre a presença do crime e a ausência de Justiça surge a impunidade que transforma brasileiros humildes em vizinhos do mal. A realidade exposta nos depoimentos recolhidos pelo UOL é uma velha conhecida do Estado. As milícias se tornaram empreendimentos vigorosos no Rio de Janeiro graças à cumplicidade estatal.
Informações colecionadas pela Polícia Federal e pelos órgãos de informação durante o governo de Michel Temer potencializaram a constatação de que as milícias prosperaram na sombra de uma coalizão dos criminosos com a política e a polícia. Ex-interventor na área de segurança do Rio, o atual candidato a vice na chapa de Bolsonaro, general Walter Braga Netto, conhece as entranhas do problema como poucos.
Raul Jungmann, ex-ministro das pastas da Defesa e da Segurança Pública, também teve contato com a encrenca. Estima que o crime domina algo como 830 comunidades do Rio.
Os criminosos não controlam apenas o território e os negócios. Eles monitoram também o voto. Elegem representantes na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal e até no Congresso. Essas bancadas, segundo Jungmann, indicam prepostos para ocupar cargos públicos, inclusive na área de segurança.
No tempo em que era apenas um deputado inexpressivo do baixíssimo clero parlamentar, Bolsonaro homenageava milicianos. Tinha ao seu redor o ex-sargento Fabrício Queiroz e o ex-capitão Adriano da Nóbrega, que mantinha a mãe e uma ex-mulher na folha da rachadinha do gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio.
Queiroz tornou-se candidato. Queria uma cadeira de deputado federal. Foi aconselhado pelo ex-chefe Flávio Bolsonaro a disputar uma vaga de deputado estadual. Adriano tornou-se um arquivo morto. Foi passado nas armas em condições esquisitas, num cerco policial, na Bahia.
Em 2018, quando disputou o Planalto pela primeira vez, Bolsonaro declarou que "as milícias tinham plena aceitação popular, mas depois acabaram se desvirtuando. Passaram a cobrar gatonet e gás". Como de hábito, a visão do capitão estava turvada pelo negacionismo.
Bolsonaro considerava aceitável a milícia de outrora, que cobrava uns caraminguás de comerciantes para executar pivetes e representantes da arraia-miúda do tráfico. Os traficantes sobreviveram. Muitos tornaram-se sócios da milícia, um crime que recruta pessoal dentro da polícia, sob a proteção de governantes. Formou-se uma espécie de coalizão das trevas. A Justiça tarda, mas não chega.
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