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Na Fiesp, o 8 de janeiro chegou no dia 16
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Reunidos num movimento muito parecido com um motim, representantes do baixo clero do patronato industrial retiraram o chão do presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva. Numa assembleia em que 106 sindicatos tinham direito a voto, Josué foi destituído por um placar de 47 a 1, mais duas abstenções. A puxada de tapete foi consumada na noite de segunda-feira.
Crise é uma coisa. Opção pelo tumulto é algo diferente. Inflação renitente, juros altos, dólar caro e PIB miúdo travam os negócios no Brasil. Com tantos problemas velhos sobre a mesa, a Fiesp decidiu fabricar uma bagunça nova. A entidade havia trocado de presidente no início de 2022. Saiu o sem-indústria Paulo Skaf, que dava as cartas havia 17 anos. Entrou o industrial Josué Gomes da Silva, que se declarou "presidente de um mandato só".
Quando parecia que a Fiesp renovaria sua pauta e seus hábitos, a lufada de ar fresco sufocou a velha guarda. Ao assumir, Josué fez um risco no chão para separar sua gestão da de Skaf. Disse que não disputaria cargos eletivos. Skaf disputou e perdeu o governo paulista três vezes. Em contraste com o bolsonarismo de Skaf, Josué trouxe para dentro da Fiesp a articulação do manifesto em apoio à democracia, lido em 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP.
O manifesto pró-democracia está na origem da sublevação que eletrifica a entidade. Sentindo-se golpeado sem justificativa plausível, Josué leva a briga à Justiça. Seus rivais querem virar a página rapidamente. Para trás.
Prevalecendo a sublevação, assumirá o comando Fiesp interinamente o mais velho dos seus 24 vice-presidentes, Elias Miguel Haddad, de 95 anos. Ele prepararia a posse do primeiro vice-presidente, Rafael Cervone, um chegado de Skaf.
Nas suas declarações como chefe da Fiesp, Josué tentou colocar um pé no futuro. Defendeu uma política industrial moderna, vinculou-se à economia verde, pregou a necessidade de definir metas para a educação e cobrou uma reforma tributária "de verdade." Esqueceu de olhar ao redor.
Josué não se deu conta de que a entidade que tentou presidir abriga sob seu guarda-chuva industriais que se alimentam de subsídios, isenções e protecionismo estatal antes de arrotar liberalismo econômico. Daí a puxada de tapete. O 8 de janeiro que convulsionou a Praça dos Três Poderes chegou à Avenida Paulista no dia 16.
Ironicamente, a Fiesp nunca teve um presidente tão prestigiado em Brasília. Filho de José Alencar, Josué foi convidado por Lula para chefiar o Ministério da Industria e Comércio. Se quiser dar o troco nos rivais, bastaria aceitar o cargo que refugou em dezembro. Improvisado no posto, Geraldo Alckmin adoraria dar expediente integral na vice-presidência da República.
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