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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falso malandro, Valdemar se mete em dois lances de otário por Bolsonaro

28.jan.21 - Jair Bolsonaro (PL) e com o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, ao fundo - Pedro Ladeira/Folhapress
28.jan.21 - Jair Bolsonaro (PL) e com o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, ao fundo Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

31/01/2023 20h49

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Quando transacionava com o petismo, Valdemar Costa Neto tropeçou no mensalão. Puxou uma cana dura. Mas consta que saiu com os bolsos forrados. Nos seus negócios com Bolsonaro, Valdemar comprovou uma tese de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, come o dono. Malandro mequetrefe, o dono do Partido Liberal meteu-se em dois lances de otário por Bolsonaro.

Num, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes congelou os fundos do Partido Liberal. Noutro, a Polícia Federal enviou a Moraes pedido para ouvir o dono do PL num dos inquéritos sobre o 8 de janeiro. Xandão, como o ministro é chamado pelos bolsonaristas, deu prazo de cinco dias para a PF interrogar Valdemar. Dependendo do que disser, pode se tornar investigado.

Valdemar virou caso de polícia ao dizer que recebeu "várias proposta" de minuta de golpe semelhantes à que a PF retirou do armário de Anderson Torres, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Nessa versão, papeluchos golpistas saltavam diante de Valdemar como pulgas no dorso de vira-latas. "Vinham pelos Correios", ele disse. "Recebi em evento político", acrescentou. "Tinha gente que colocava no meu bolso", insistiu. "Advogados me mandavam".

Intimado, Valdemar irá à PF de mãos vazias. Jura ter passado as provas no triturador. Faltou ao falso malandro a assessoria de uma criança de cinco anos. Qualquer brasileiro na primeira infância, farejaria autoincriminação na lorota construída por Valdemar para livrar a cara de Anderson Torres e distanciar de Bolsonaro a minuta de decreto que colocava o TSE sob estado de defesa e anulava a vitória de Lula.

Ligando o decreto a uma visita que Valdemar fez a Bolsonaro em novembro, quando ele estava recluso no Alvorada, o assessor de 5 anos entoaria Bezerra da Silva: "Malandro é malandro, mané é mané..."

Valdemar foi aos refletores na época para declarar que havia sido pressionado por Bolsonaro para ingressar com ação no TSE questionando cerca de 250 mil urnas antigas usadas nas eleições de 2022.

A ação foi protocolada na semana seguinte. Além de sepultar a peça, Alexandre de Moraes esvaziou os cofres do PL, multando a legenda em R$ 22,9 milhões. Ficou evidente que Bolsonaro operava no bunker do Alvorada para prolongar os acampamentos que pediam golpe no portão dos quarteis.

A apreensão da minuta na casa de Anderson Torres deu um sentido à movimentação de Bolsonaro. Tramava-se estimular a crença de que haveria uma virada de mesa. Às vésperas de fugir para Orlando, Bolsonaro admitiu numa live: "Eu busquei dentro das quatro linhas se tinha alguma alternativa para isso aí. Certas medidas têm que ter apoio do Parlamento, do Supremo, de outros órgãos e instituições."

O convívio com Bolsonaro encostou a esperteza de Valdemar no quebra-quebra de 8 de janeiro. O malandro passou a enxergar na imagem do espelho um rematado otário.

Tradutor: Falso malandro, Valdemar se mete em dois lances de otário por Bolsonaro

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL