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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diplomacia dos EUA vê 'deselegâncias' de Lula em encontro virtual com Biden

Lula participou da Cúpula Virtual do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima - Reprodução
Lula participou da Cúpula Virtual do Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/04/2023 05h06

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Lula teve nesta quinta-feira seu primeiro encontro com Joe Biden depois de ter pisado nos calos dos Estados Unidos em viagem à China e aos Emirados Árabes. Avistaram-se virtualmente, no Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima. Foi criado por Barack Obama. Reúne 26 das maiores economias do planeta. A representação diplomática americana em Brasília enxergou quatro "descortesias" na participação do presidente brasileiro.

1) Descaso: Lula chegou atrasado à reunião virtual. Na fase inicial, foi substituído na tela por Celso Amorim, o assessor internacional do Planalto. Na definição de um diplomata americano, a impontualidade foi interpretada como sinal de "desdém", "desconsideração", "desprezo".

2) Deseducação: Durante parte do discurso de Biden, Lula exibia-se na tela jogando conversa fora em diálogos laterais. Em contraste, gente como Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, e Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ouviam atentamente o orador. O comportamento de Lula foi tachado de "falta de educação".

3) Mal-agradecido: Biden surpreendeu a audiência ao anunciar que os Estados Unidos pretendem repassar ao Fundo Amazônia nos próximos cinco anos US$ 500 milhões. A cifra equivale a R$ 2,5 bilhões. É dez vezes mais do que os modestos US$ 50 milhões prometidos em fevereiro, quando Lula visitou a Casa Branca. Ao discursar, Lula se absteve de mencionar o aceno de Biden. Na avaliação da diplomacia americana, faltou "uma palavra de reconhecimento ao esforço".

4) Provocação: Ao discursar, Lula soou repetitivo nas referências ambientais. Limitou-se a renovar antigos compromissos. Coisas como a meta de desmatamento zero até 2030 e a promessa de reflorestar 12 milhões de hectares. A certa altura, injetou na prosa referências veladas ao conflito entre Rússia e Ucrânia. "Não há sustentabilidade em um mundo em guerra", declarou. "Somos defensores intransigentes da paz entre os povos." A reiteração de uma pregação já exibida na viagem internacional da semana passada, foi interpretada como "provocação desnecessária num ambiente inadequado."

Para complicar, ganhou as manchetes nesta quinta-feira uma notícia indigesta: A área desmatada na Amazônia em março foi o triplo da registrada no mesmo mês em 2022. Coletado pelo Imazon, o dado corresponde a quase mil campos de futebol de vegetação nativa destruídos por dia. Uma evidência de que a guinada ambiental representada pela troca de comando no Planalto é apenas o começo de um desafio ambiental cuja superação depende da apresentação de serviço a médio prazo.

Aos poucos, a imagem positiva que o retorno de Lula proporcionou ao Brasil nos Estados Unidos e nas democracias europeias vai se esmaecendo. Não fosse o contraste com a ruína produzida por Bolsonaro, que se orgulhava do negacionismo climático e da condição de pária internacional, Lula talvez precisasse benzer a sua oratória.