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Josias de Souza

REPORTAGEM

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'Sentença é redigida com a caligrafia do Bolsonaro', afirma ministro do TSE

Colunista do UOL

29/06/2023 09h24

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Na noite passada, um dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral recebeu um advogado amigo para o jantar. Sem antecipar o voto, confirmou durante a refeição os prognósticos de veredicto para o julgamento que entra em sua fase final nesta quinta-feira. Disse uma frase que ajuda a compreender a sensação de jogo jogado: "A sentença de inelegibilidade é redigida no TSE com a caligrafia do Bolsonaro."

Nessa versão, Bolsonaro cavou a própria cova. A Justiça Eleitoral apenas joga terra em cima. Prevalece a percepção de que Bolsonaro exagerou nas apostas contra a democracia e Alexandre de Moraes. Perdeu todas. Houve um momento, segundo o ministro, em que o apostador poderia ter saído do buraco. Deu-se depois do 7 de Setembro de 2021, quando Bolsonaro chamou Moraes de "canalha" e avisou que não cumpriria decisões que viessem dele.

Michel Temer jogou água na fervura, redigiu uma nota de recuo e colocou Bolsonaro no telefone com Moraes. Bastava cumprir o compromisso de moderação assumido naquele armistício. Mas Bolsonaro continuou dobrando suas apostas. No jantar com o advogado, o ministro recordou um outro aviso desprezado por Bolsonaro.

O aviso soou numa sessão do TSE realizada no mês seguinte, outubro de 2021, um ano antes da eleição de 2022. Nessa sessão, o TSE livrou a chapa Bolsonaro-Mourão da cassação. Mas avisou que a repetição de 2018, ano em que Bolsonaro prevaleceu propagando mentiras no WhatsApp, resultaria em punição severa. Coube a Alexandre de Moraes avisar na época o destino dos transgressores: "Irão para a cadeia".

Decorridos apenas dois meses, Bolsonaro voltou a surtar. Irritado com os desdobramentos do inquérito em que é investigado por associar a vacina contra a covid à Aids, o então presidente disse numa entrevista de dezembro de 2021: "É um absurdo. Ele [Moraes] está no quintal de casa. Será que ele vai entrar? Será que vai ter coragem de entrar? Não é um desafio para ele, quem está avançando é ele, não sou eu." Deu no que está dando. E pode ficar pior.