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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Múcio erra ao avalizar fardamento de Mauro Cid

Colunista do UOL

12/07/2023 09h11

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José Múcio, o ministro da Defesa, disse não ter visto afronta à CPI do Golpe no fato de Mauro Cid ter comparecido à comissão uniformizado. Tem razão. A ofensa não foi à CPI, mas às Forças Armadas. A exposição de quase oito horas a que foi submetido o tenente-coronel Mauro Cid na CPI do Golpe escancarou diante dos refletores duas obviedades:

1) Ao orientar o não-depoente a se apresentar fardado, o Exército transformou o drama criminal do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro num processo de desmoralização das Forças Armadas.

2) Ao transformar a hipotética inquirição do ex-faz-tudo do capitão num show de horrores intercalado por exibições de despreparo, os parlamentares produziram material para a convocação de uma outra Comissão Parlamentar de Inquérito —uma CPI para investigar a inutilidade de certas CPIs.

Na nota em que justificou o uso da farda, o Exército alegou que o encrencado foi convocado para "tratar de temas referentes à função para a qual fora designado pela Força". Ao informar que ficaria em silêncio para não se autoincriminar, o próprio Cid disse estar encrencado em oito inquéritos. As investigações tratam de muitas coisas —de joias sauditas e vacinas a conversas vadias sobre golpe. Nada a ver com as atribuições de um ajudante de ordens.

Se estivesse em trajes civis, Cid desonraria apenas a si próprio. Fardado, empurrou as Forças Armadas para dentro de inquéritos que enferrujam a reputação de um oficial cujo silêncio transforma o nada numa palavra que ultrapassa tudo.

Quanto à CPI, ficou demonstrado que seu funcionamento dificilmente resultará em algo útil para a elucidação da tentativa de golpe do 8 de janeiro. Planejada pela oposição e controlada pelo governo, a comissão transformou-se numa versão coletiva da velha prática de jogar dinheiro público pela janela.

Se pudesse, o contribuinte talvez chamasse o Procon. Como a inutilidade legislativa não se encaixa no ramo do Direito do Consumidor, resta torcer para que os parlamentares desenvolvam por conta própria o senso do ridículo.