Centrão pressiona Lula a manter ministro suspeito de corrupção
Lula mantém em banho-maria há mais de três meses a articulação que visa entregar ministérios a André Fufuca e Silvio Costa Filho, deputados do PP e do Republicanos. Demorou tanto para ampliar a presença do centrão no governo que surgiu uma panela nova na cozinha do Planalto. Nela, ferve o ministro das Comunicações Juscelino Filho, do União Brasil. Agora, além de pressionar Lula para obter novos cofres, o centrão se move para manter Juscelino no cargo a despeito das suspeitas de corrupção levantadas pela Polícia Federal.
Nos bastidores, oligarcas de centrão disseminaram durante o final de semana uma tese conspiratória segundo a qual a demora de Lula em concluir a mini-reforma ministerial e o bote da PF sobre Juscelino e seu grupo político no Maranhão não são mera coincidência. Nessa versão, o avanço da investigação policial teria o propósito de constranger o centrão a aceitar ministérios periféricos, de menor densidade política e menos permeáveis à fruição de emendas parlamentares. A alegação de complô já havia sido usada quando a PF pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal para investigar Arthur Lira, condestável do centrão, no caso dos kits de robótica.
Com conversas com auxiliares, Lula cogitou a hipótese de substituir Juscelino por um novo indicado do União Brasil. Farejando o cheiro de queimado, os líderes do partido na Câmara e no Senado, Elmar Nascimento e Efraim Filho, divulgaram uma nota de "solidariedade e apoio" a Juscelino. Usaram no texto uma expressão muito usual na retórica de Lula. Em vez de explicar os crimes atribuídos a um político, encaixaram as investigações contra o ministro sob o guarda-chuva da "criminalização da atividade política".
Os líderes do União Brasil alegaram que o inquérito da PF contém "denúncias e indícios que ainda não foram devidamente apurados". Realçaram que o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso negou pedido de busca e apreensão contra Juscelino. Ignoraram a decisão de Barroso de bloquear preventivamente R$ 835 mil em bens de Juscelino.
No momento, o governo tem a seu favor dois fatores: a autonomia concedida à PF e o fato de as verbas suspeitas terem sido liberadas sob Bolsonaro. Mantendo Juscelino no cargo, Lula consolidará a percepção de que, para obter apoio no Congresso, está disposto a contemporizar com a malversação de verbas públicas. É o primeiro grande teste moral do terceiro mandato.
- Leia abaixo a íntegra da nota do União Brasil:
"Diante do afastamento da prefeita de Vitorino Freire (MA), Luanna Bringel, de seu cargo, e considerando os demais acontecimentos do dia de hoje, manifestamos nossa solidariedade e apoio à prefeita e ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Luanna tem 93% de aprovação, índice recorde no município, fruto de seu trabalho direcionado à população vitorinense com resultados efetivos.
Tanto a prefeitura quanto a prefeita, atenderam às solicitações de disponibilização de informações. Temos uma investigação ainda em fase de inquérito, com denúncias e indícios que ainda não foram devidamente apurados, e cuja falta de evidências serviram de embasamento para que se negasse, por exemplo, mandados de busca contra a pessoa do ministro Juscelino.
Há algum tempo, enfrentamos uma situação desfavorável de criminalização da atividade política. Existe uma constante tentativa de relacionar atos normais da atividade parlamentar como a simples destinação de recursos para os municípios, como atos de corrupção. O resultado desse cenário é perigoso, pois resulta na desconfiança generalizada em relação a todos os políticos, nas instituições democráticas e na própria democracia.
Inicialmente, essas alegações são amplamente divulgadas nos meios de comunicação e nas redes sociais, criando uma atmosfera de acusação pública. No entanto, quando as investigações subsequentes não encontram evidências de crime, má-fé ou corrupção, a divulgação da verdade é negligenciada ou minimizada.
Expressamos solidariedade à prefeita Luanna Bringel e estendemos ao ministro Juscelino Filho, que tem sido alvo de ataques desde que assumiu seu cargo no ministério e tem respondido com muita dedicação ao trabalho.
Elmar Nascimento (BA), Líder do União Brasil na Câmara dos Deputados
Efraim Filho (PB), Líder do União Brasil no Senado Federal."
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