Josias de Souza

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Opinião

Aos poucos, Lula ajusta retórica sobre a guerra no Oriente Médio

Lula divulgou nesta quarta-feira novo comunicado sobre o acirramento da guerra entre o Hamas e Israel. No texto, o presidente brasileiro dirige um "apelo" ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e à comunidade internacional. Pediu uma mobilização conjunta contra "a mais grave violação aos direitos humanos no conflito no Oriente Médio". Citou pela primeira vez o grupo terrorista Hamas.

"É preciso que o Hamas liberte as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias", anotou Lula. "É preciso que Israel cesse o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito", ele acrescentou.

Lula vinha sendo criticado por omitir o Hamas. No sábado, ele havia criticado o atentado que resultou numa carnificina em território israelense. Repudiou o ataque. Prestou condolências às vítimas. Citou a palavra "terrorismo" duas vezes. Mas se absteve de mencionar o Hamas.

Ainda não surgiu um comunicado de Lula em que as palavras "terrorismo" e "Hamas" apareçam lado a lado. Mas é nítido o esforço para ajustar o discurso. Já está entendido que Lula evita confundir a causa palestina por um estado autônomo, que sempre defendeu, com a carnificina do Hamas.

Simultaneamente, Lula como que condiciona o apoio ao direito de defesa de Israel à preservação da vida de civis palestinos. Daí a referência à necessidade de abrir corredores humanitários de fuga em Gaza, para que as bombas israelenses não caiam sobre as cabeças de mães e crianças palestinas.

No momento, o Itamaraty negocia com o governo egípcio autorização para que três dezenas de brasileiros possam cruzar a fronteira. A ideia é que esses brasileiros abandonem a Faixa de Gaza em dois ônibus alugados, através do posto fronteiriço de Rafah. Mas esse posto foi alvo de bombardeios da Força Aérea de Israel.

Lula equilibra-se sobre a corda bamba num instante em que o Brasil exerce a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. Representante do governo brasileiro na entidade, o embaixador Sérgio Danese realiza consultas aos países-membros do conselho à procura de um consenso mínimo que permita a emissão de um posicionamento uniforme sobre o conflito e uma eventual classificação explícita do Hamas como grupo terrorista.

Articula-se para esta sexta-feira uma nova reunião do Conselho de Segurança, para discutir o caos humanitário de Gaza. A realidade conspira contra o compasso de espera, pois o Ministério da Defesa de Israel informou nesta quarta-feira que há brasileiros entre os reféns capturados pelo Hamas. O Itamaraty tenta confirmar a revelação. Se for verdadeira, os horizontes de Lula se encurtam.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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