Josias de Souza

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Opinião

Na COP28, transição energética é novo apelido para negacionismo

O objetivo central da COP28, maior conferência climática da história, é avaliar os resultados obtidos com o Acordo de Paris, celebrado há oito anos. O fracasso é retumbante. Respira-se uma atmosfera de fim de mundo. Mas os líderes mundiais se comportam como se nenhum Apocalipse fosse tão grande que não coubesse no dia seguinte. Providências inadiáveis são empurradas com a barriga.

Bateram-se em 2023 os recordes de aquecimento do clima. Mantida a emissão de gases de efeito estufa no nível atual, a temperatura média do planeta ultrapassará a marca de 1,5 ºC antes do final da década. Em mais duas décadas, chega-se fácil aos temidos 2 ºC. Ruíram também as metas monetárias do acordo parisiense.

Previa-se que, a partir de 2020, os países ricos fariam chover US$ 100 bilhões ao ano sobre o ambiente de nações em desenvolvimento. O fluxo financeiro seria crescente, alcançando a marca de US$ 600 bilhões em 2025. A cláusula jamais foi cumprida. Hoje, além de expiar as suas culpas ambientais, o mundo precisaria se autoimpor compromissos mais ambiciosas.

De saída, seria necessário redefinir as fontes de financiamento. O custo para retardar o funeral do ambiente agora é orçado na casa dos trilhões. Conviria, de resto, providenciar um acordo global de abandono dos combustíveis fósseis —com metas críveis, datas definidas e trajetória auditável. Como nada disso parece provável, a expressão "transição energética" vai se tornando apenas um apelido novo para o velho negacionismo.

O pano de fundo da COP 28 não estimula o otimismo. A cúpula ocorre nos Emirados Árabes Unidos, que frequentam a lista de maiores produtores de petróleo do mundo. Estão ausentes Joe Biden e Xi Jinping, presidentes dos Estados Unidos e da China, os dois países que mais lançam na atmosfera os gases-estufa. Para complicar, as maiores vítimas do descalabro climático não dispõem de voz, pois ainda não nasceram. Talvez não reste às futuras gerações senão tentar a vida em outros planetas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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