Josias de Souza

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Lula condena discursos vazios, e expõe um oco ao falar na COP28

Na sua primeira manifestação na COP28, maior conferência climática da história, Lula ralhou com os líderes mundiais. Queixou-se dos "acordos climáticos não cumpridos" e das "metas de redução de emissão de carbono negligenciadas." Reclamou "do auxílio financeiro aos países pobres que não chega". Afirmou que "o planeta está farto" inclusive "de discursos eloquentes e vazios". O presidente brasileiro teria soado impecável não fosse por um detalhe. Sua fala também continha um oco.

O propósito da cúpula climática é avaliar os resultados obtidos com o Acordo de Paris, assinado há oito anos. Como realçou Lula, o que restou são compromissos financeiros descumpridos e objetivos ambientais ignorados. Generalizou-se a percepção segundo a qual seria necessário agora firmar um acordo global de abandono dos combustíveis fósseis —com metas confiáveis, datas definidas e trajetória mensurável.

Sobre esse tema, no entanto, Lula soou vago e esvaído. Afirmou que "é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis." Absteve-se de assumir compromissos que sinalizassem a intenção do Brasil de apressar o passo na substituição do petróleo. Disse que é preciso agir "de forma urgente e justa". Mas não encostou um calendário na sua urgência. Deixou boiando no vácuo duas interrogações incômodas: Quando? Como?

Deve-se a omissão de Lula a uma dicotomia que constrange o seu governo. De um lado, Marina Silva defende a conversão da estatal do petróleo em empresa de energia e Fernando Haddad elabora um plano econômico de transformação ecológica. Do outro, a pasta de Minas e Energia e a Petrobras pressionam pela exploração de petróleo na foz do Amazonas e celebram o flerte do Brasil com o cartel petrolífero da Opep.

Apenas 24 horas antes da chegada de Lula a Dubai, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), um dos integrantes da caravana brasileira à cúpula do clima, estrelou um vídeo paradoxal. Nele, o auxiliar de Lula afirmou que seu chefe confirmara o ingresso do Brasil, a partir de janeiro de 2024, na Opep+, um grupo que inclui os membros do cartel e países simpatizantes da confraria do óleo.

Nesta sexta-feira, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também presente à COP28, disse ver "com muito bons olhos" a entrada do Brasil na Opep+. "É uma plataforma de cooperação que gravita em torno da Opep, de países que são produtores e exportadores de petróleo, mas que não têm a preocupação do cartel. Que, aliás, não é um cartel. É uma associação legitimamente constituída."

Segundo Prates, o secretário-geral da Opep, Haitman Al-Ghais, informou a Lula que tem planos maravilhosos para o grupo. Deseja "transformar o Opep em uma organização diferente, moderna e focada na transição energética". Nessa versão, a Opep tem cara de lobo, orelhas de lobo e dentes de lobo. Mas o governo brasileiro se dispõe a acreditar que o cartel não passa de uma vovozinha disfarçada.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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