Quaquá oferece ao PT chance de se diferenciar dos bolsonaristas
Na política, como na vida, a sutileza do comportamento humano consiste em identificar a semelhança das coisas diferentes e a diferença das coisas semelhantes. Petistas e bolsonaristas consideram-se superiores uns aos outros. Mas têm dificuldade de distinguir o despudor do decoro. Confundindo uma coisa com a outra, igualam-se em suas diferenças.
O deputado Washington Quaquá, vice-presidente do PT, agrediu em plenário uma dupla de colegas bolsonaristas. Dirigiu uma ofensa homofóbica a Nikolas Ferreira e esbofeteou Messias Donato. A desqualificação de Quaquá ofereceu ao petismo uma oportunidade para se qualificar, punindo-o com a expulsão da legenda. Mas a direção do PT se finge de morta. Ao optar pela contemporização, o partido de Lula demonstra que não perde a oportunidade de perder oportunidades.
Em março, quando Nikolas Ferreira escalou a tribuna da Câmara fantasiado com uma peruca loira para pronunciar um discurso transfóbico no Dia Internacional da Mulher, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, irritou-se com a frouxidão do mandachuva da Casa, Arthur Lira, que se limitou a anotar nas redes sociais que o deputado merece "minha reprimenda pública por sua atitude".
"Reprimenda pública contra deputado que fez discurso transfóbico e misógino é muito pouco", queixou-se Gleisi, numa reação certeira. "É preciso conter essa gente, não podemos aceitar ataques, ofensas e crimes na Câmara". Agora, submetidos à agressão homofóbica e ao tapa na cara desferido pelo companheiro Quaquá, Gleisi e a cúpula do PT ainda não fizeram nada. Demoram a perceber que nada, neste caso, é um vocábulo que ultrapassa tudo.
Diante do silêncio do PT, Lira subiu o tom. Depois de aliviar a barra do bolsonarista Nikolas, afirmou que "providências serão tomadas" contra o petista Quaquá. O imperador da Câmara afirma que "é importante que os partidos não façam acordos para que os casos investigados pelo Conselho de Ética sejam arquivados."
Líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu informou que já dispõe de vídeos que exibem o xingamento de bolsonaristas que chamaram Lula de "ladrão" e ofenderam a ministra Simone Tebet na sessão de promulgação da reforma tributária.
"Cada deputado desqualificado que xingou e agrediu será processado no Conselho de Ética", anunciou Zeca Dirceu, a começar por Nikolas Ferreira. Nada sobre Quaquá, que reincidiu na desqualificação ao ironizar nas redes antissociais o choro do esbofeteado Messias Donato. "Adora xingar e agredir os outros, mas não aguenta uma porrada", anotou.
Na atual legislatura, envenenada pela polarização, o Congresso habituou-se a conviver com um verbo pouco usado no linguajar cotidiano: apatifar. Significa tonar desprezível, aviltar, envilecer. A dificuldade de distinguir a semelhança das coisas diferentes e a diferença das coisas semelhantes termina por igualar todos na patifaria.
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