Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Confraternização Lula - Campos Neto encerra crise feita de vapor

Quando Lula zangou-se com o presidente do Banco Central, nas primeiras semanas de governo, passou a impressão de ter sido infectado por algum vírus deixado no Planalto pelo gabinete do ódio de Bolsonaro.

Ao incluir Roberto Campos Neto, "esse cidadão", entre os convidados da recepção que ofereceu às vésperas do Natal a ministros, auxiliares e políticos, na Granja do Torto, Lula desfez uma crise 100% feita de vapor. Algo que não ornava com a retórica da pacificação.

Com sua birra, Lula pretendia cavalgar a impopularidade dos juros altos. A taxa Selic estava em 13,75% ao ano. Decorridos onze meses, o Datafolha informa que a a aprovação de Lula se mantém estável em 38%. Os juros caíram para 11,7%. E o Banco Central informa que vêm aí mais dois cortes de 0,5 ponto percentual -um em janeiro, outro em março.

Quer dizer: os juros estarão rodando na casa de 10,75% no final do primeiro trimestre de 2024. Deve-se o movimento descendente da taxa não à teatralidade de Lula, mas à junção da perseverança do BC com a opção de Fernando Haddad pela responsabilidade fiscal.

Haddad comportou-se como maestro de sua equipe econômica. Construiu seu êxito no primeiro ano de costas para a plateia. Uma plateia que incluía um chefe que dizia que a meta fiscal "não precisa ser zero" e um petismo que enxergava na estratégia da Fazenda um "austericídio fiscal".

O êxito político da gestão Lula depende essencialmente do sucesso da estratégia de Haddad. Sem alarde, o ministro da Fazenda segue uma regra não escrita que divide os mandatos em duas fases. Se funcionar, Lula chegará bem-posto à fase final do seu terceiro ciclo no Planalto.

Na tática escolhida por Haddad, os primeiros dois anos servem para que o governo ajuste as contas nacionais. Nos dois últimos anos, o presidente desfilaria pela conjuntura como um mestre de bateria de escola de samba, desfilando suas realizações pela avenida.

O plano de Haddad terá maior chance de êxito se Lula conseguir conter seus arroubos e abafar os bumbos do PT. Nesse contexto, as crises de vapor são inutilidades que fazem lembrar o cercadinho de Bolsonaro. O churrasco da Granja do Torto, embalado por um trio feminino de música sertaneja, sinaliza que Lula compreendeu as vantagens da distensão dos cenários político e econômico. A ver.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes