Bolsonaro vira alvo potencial de novas delações ao fritar Heleno
Ao atribuiu exclusivamente ao general Augusto Heleno a iniciativa de colocar espiões da Abin na campanha eleitoral, Bolsonaro jogou o velho amigo numa frigideira criminal. "É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma", declarou Bolsonaro, reincidindo no seu já conhecido desapreço pela máxima militar segundo a qual o comandante jamais abandona um subordinado.
Bolsonaro demora a notar. Mas foi justamente essa mania de esquivar-se de responsabilidades que produziu a delação de Mauro Cid. O convívio com o então presidente converteu o ajudante de ordens em testemunha de transgressões e traições. Cid viu como Bolsonaro carbonizou, em 2021, o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e três comandantes militares. Assistiu à fritura de dois ministros palacianos, Gustavo Bebianno e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Quando explodiram o caso das joias sauditas e o escândalo da fraude dos cartões de vacinação, Mauro Cid percebeu que as manifestações de Bolsonaro, por vezes desconexas e contraditórias, desaguavam sempre no seu colo. Não importava a inconsistência do argumento, desde a que conduzisse para a hipotética autonomia funcional do então ajudante de ordens. Jé bem passado, Cid farejou o cheiro de queimado. Ao sentir o hálito da Polícia Federal na sua nuca, o tenente-coronel abriu o bico. Deu no que está dando.
Augusto Heleno chefiava o Gabinete de Segurança Institucional e tinha a Abin sob o seu guarda-chuva. Mas durante a Presidência de Bolsonaro, a mobilização de um aparato clandestino para espionar campanhas era areia demais até para a carreta do general. A lealdade subserviente inibe uma confissão premiada de Heleno. Mas outros encrencados podem enxergar na combustão do general um estímulo para seguir as pegadas de Mauro Cid.
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