Golpista em curso no exterior acentua desgaste do Exército
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A prisão retardatária do coronel Bernardo Romão Corrêa Netto causou duplo constrangimento ao Exército. No total, 16 militares caíram no alçapão da Operação Hora da Verdade. A soma sobe para 17 quando se inclui o delator Mauro Cid, já encalacrado. Dos quatro que tiveram a prisão decretada, três vestem farda. Dois foram à gara imediatamento. Faltava recolher o coronel Romão. Como precisou repatriá-lo dos Estados Unidos, o Exército amargou por mais três dias uma exposição negativa iniciada na quinta-feira, quando a Polícia Federal tocou a campainha dos enrolados. E a força ainda precisa explicar por que manteve o golpista Romão matriculado no Colégio Interamericano de Defesa.
Sediada em Washington, a escola oferece cursos de graduação e pós-graduação a militares e agentes de forças de segurança de países vinculados à Organização dos Estados Americanos. Vangloria-se de envernizar currículos, aparelhando os donos para assumir cargos estratégicos nos governos de seus países. Efetivada no apagar das luzes de 2022, ainda sob Bolsonaro, a matrícula do coronel Romão sobreviveu à transição do novo governo por um ano e dois meses.
Quer dizer: o coronel permanecia nos Estados Unidos 14 meses depois da chegada de Lula, o presidente cuja posse o braço golpista do bolsonarismo tentou impedir. A investigação da PF pilhou o coronel Romão organizando reunião de militares das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos". Treinados para defender o Estado, agiriam na consumação do golpe. Atribuía-se a militares das forças especiais, por exemplo, a missão de prender Alexandre de Moraes.
No organograma do Exército, os "kids pretos" estão subordinados ao Comando de Operações Especiais. Era chefiado pelo general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira. Segundo a PF, ele consentiu com uso de efetivos militares na virada de mesa desde que Bolsonaro assinasse o decreto do golpe. Theophilo também sobreviveu à chegada de Lula. Permaneceu no Alto Comando do Exército até três meses atrás, quando passou para a reserva.
Dos 16 militares confrontados com a "hora da verdade", seis tiveram que ser afastados de suas funções porque continuavam na ativa. O comando do Exército alega que desconhecia os meandros da investigação. A oxidação produzida por Bolsonaro na imagem dos militares é o preço com juros e multa, cobrado de fardados que não pagaram em dia suas parcelas de respeito à Constituição. Ao retardar a limpeza dos seus quadros, condicionando a higienização ao trânsito dos processos, as Forças Armadas assumem as prestações mais pesadas do crediário da desmoralização.
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