Josias de Souza

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Bolsonaro virou sargento Garcia de Ricardo Nunes, o falso Zorro

Até aqui, Ricardo Nunes vinha tratando o seu flerte com o bolsonarismo como uma senha capaz de liberar o seu acesso ao cesto de votos da direita radical na cidade de São Paulo. Algo que, numa disputa apertada com Guilherme Boulos pela poltrona de prefeito, poderia funcionar, na visão do candidato, como uma bala de prata, daquelas que um Zorro costuma utilizar.

Ao constranger Ricardo Nunes a comparecer ao ato de autodefesa que convocou para 25 de fevereiro, Bolsonaro agiu com o propósito de arrancar a máscara do prefeito de São Paulo, um hipotético aliado que ambicionava obter os seus votos sem abraçar as toxinas que produzem altas taxas de rejeição. Se o prefeito escalar o caminhão de som do golpismo, como anunciou, pode aniquilar um disfarce já bem precário.

Por trás da máscara do herói dos quadrinhos e do cinema, podemos ver Don Diego de la Vega, um mocinho milionário e bonito. Se der as caras no ato pró-golpe que Bolsonaro vende como manifestação em defesa do Estado democrático de direito, Ricardo Nunes revelará ao eleitorado paulistano que seu disfarce esconde não um Zorro pós-moderno, mas uma espécie de reencarnação de Don Ramon, o tio malvado de Don Diego.

Desfeito o disfarce construído pela marquetagem, Ricardo Nunes provavelmente continuará dispondo dos votos do bolsonarismo neandertal. Corre o risco, porém, de descobrir, no dia da abertura das urnas, que esses votos podem levar um candidato ao segundo turno, mas talvez sejam insuficientes para vencer a eleição majoritária numa capital em que Lula, o aliado do rival Boulos, venceu Bolsonaro em 2022.

Mal comparando, é como se o capitão realizasse um sonho que o sargento Garcia perseguia: conseguiu prender Ricardo Nunes, o falso Zorro de São Paulo, no seu cercadinho golpista.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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