Improvisos acomodam a língua de Lula na liderança da oposição
Existe um grande remédio para cada erro: reconhecê-lo. O governante que comete um erro e não o corrige, acaba cometendo um segundo erro. Na passagem pela África, Lula perdeu nova oportunidade de manter a língua no cabresto dos discursos lapidados pela diplomacia. Ao se entregar ao improviso, converteu-se numa oportunidade que Netanyahu aproveita ao comparar os crimes de guerra cometidos por Israel em Gaza com o holocausto
Após considerar Lula persona non grata em Israel, Netanyahu mandou seu chanceler repreender o embaixador brasileiro. Normalmente, esse tipo de ritual é encenado em reuniões fechadas, no Ministério das Relações Exteriores. O representante do Brasil foi humilhado diante dos repórteres, no Museu do Holocausto.
Nessas horas, o conselheiro mais perigoso de um governante é o amigo que deseja ver o sangue dos adversários. Aconselhado por Celso Amorim, Lula avaliou que melhor do que uma crise, só duas crises. Dobrou a aposta. Num troco, mandou convocar o embaixador israelense para se explicar no Itamaraty. Noutra reação, esvaziou a embaixada em Tel Aviv, chamando o titular de volta a Brasília.
Por qualquer ângulo que se analise, encostar a carnificina de Gaza no holocausto é um equívoco. Do ponto de vista historiográfico, a analogia flerta com a ignorância. Sob a ótica da política interna, é uma onda que o bolsonarismo surfa, ativando a oposição evangélica. Lula leva uma surra nas redes sociais.
Na política externa, a polêmica é um pretexto para Netanyahu fazer pose de herói da resistência ao antissemitismo num instante em que está mais isolado no mundo. Lula demora a perceber que o que arruína a sua política externa não são apenas os erros, mas a forma como reage depois de cometê-los. Lula deveria calibrar suas declarações. Sob pena de converter a própria língua em líder da oposição.
Deixe seu comentário