Josias de Souza

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Opinião

'Se pacificador da Paulista fosse real, ele talvez estivesse reeleito'

Um ministro do Supremo Tribunal Federal ironizou o discurso feito por Bolsonaro a milhares de devotos, na tarde de domingo: "Se o pacificador da Avenida Paulista fosse real, ele talvez estivesse reeleito", disse ele à coluna. "Não haveria 8 de janeiro, muito menos pedido de anistia."

O senador-general Hamilton Mourão protocolou no Senado, há quatro meses, proposta que concede anistia aos condenados por invadir as sedes dos Três Poderes. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, presidentes do Senado e da Câmara, sinalizam nos bastidores que não cogitam levar à pauta de votação nenhum projeto de anistia.

Os primeiros sinais estimulam a percepção de que a nova agenda de Bolsonaro começou a enferrujar menos de 24 horas depois de ser lançada. Consiste basicamente no seguinte: 1) "Pacificação"; 2) "Anistia para os pobres coitados" do 8 de janeiro; e 3) "Passar uma borracha no passado".

A certa altura, Bolsonaro insinuou que, no limite, a anistia e a borracha poderiam beneficiá-lo. Numa evidente autoreferência, declarou: "Nós não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja."

Bolsonaro obteve a foto que tanto desejava. Encheu sete quadras da Avenida Paulista. Foi um notável feito político. Derrotado na sucessão, declarado inelegível pelo TSE e acossado por meia dúzia de inquéritos criminais no Supremo, o capitão mostrou que ainda respira. Do ponto de vista jurídico, porém, a façanha política não teve grande serventia.

O asfalto voltou para casa e os crimes atribuídos a Bolsonaro não sumiram dos processos. Para piorar, a Polícia Federal enxergou num trecho da fala de domingo uma admissão da existência de minuta de golpe. Para os investigadores, o orador da Paulista merece interrogatório, não anistia.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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