Josias de Souza

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Opinião

Tarcísio perde a melhor chance para se distanciar de Bolsonaro

Tarcísio de Freitas não perde oportunidade de perder oportunidades de distanciar seus planos da radioatividade irradiada por Bolsonaro. Neste domingo, o governador de São Paulo desperdiçou a melhor chance que a conjuntura já lhe proporcionou para se credenciar como alternativa política da direita civilizada.

A gratidão de Tarcísio a Bolsonaro por ter impulsionado sua ascensão ao governo de São Paulo é uma coisa. Esticar o convívio com um padrinho que coleciona inquéritos criminais é outra coisa. Em política, é muito tênue a fronteira entre a lealdade e a temeridade.

Ao discursar, Tarcísio disse ter ido à Avenida Paulista para "celebrar o verde e amarelo, o amor ao nosso país, o Estado Democrático de Direito". Engano. Desceu ao asfalto como coadjuvante de uma apoteose concebida para num golpista contumaz um figurino de vítima.

Herdeiro potencial dos votos que levaram Bolsonaro ao Planalto, Tarcísio parece supor que continua intacto o sonho do capitão de liderar a direita que retirou do armário em 2018. Grave engano.

A direita paleolítica que encheu sete quadras da Avenida Paulista já havia demonstrado que possuía raízes profundas no 8 de janeiro. Mas a direita civilizada abandonou em 2022. Ajudou a eleger Lula por uma diferença diminuta de 1,8 ponto percentual de votos. E continua órfã de uma alternativa que Tarcísio se recusa a personificar.

Se espera que Bolsonaro o declare seu herdeiro, Tarcísio precisa puxar uma cadeira. Ou um ronco. O pedido de "anistia" e o lero-lero sobre "passar uma borracha no passado" mostram que o capitão tem a pretensão de voltar às urnas. O diabo é que o mesmo Supremo que propiciou a Lula o sonho da anulação das sentenças está prestes a impor a Bolsonaro o pesadelo da condenação.

Bolsonaro levou à Paulista o rastro pegajoso de meia dúzia de processos à espera de sentença no Supremo. Além da tentativa de golpe, há a venda das joias, a fraude no cartão de vacinas, as perversões da pandemia, o vazamento de inquérito sigiloso, o aparelhamento da Polícia Federal.

Faltou a Tarcísio perspicácia para traçar um risco no chão, separando sua biografia dos crimes atribuídos a Bolsonaro. Abstendo-se de estabelecer a fronteira a partir da qual não avançaria, governador vinculou-se aos indiciamentos, denúncias, ações penais e sentenças que estão por vir. Encerrou seu discurso na Paulista com um "muito obrigado, Bolsonaro, sempre estaremos juntos."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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