Desejo de exibir músculos na rua é presente do PT para Bolsonaro
Se Bolsonaro tinha um plano para o ato político de domingo passado durou poucas horas. A Avenida Paulista voltou para casa. E as complicações criminais do orador não sumiram dos inquéritos. De repente, Bolsonaro foi socorrido pelos reflexos condicionados dos aliados de Lula. O PT e seus satélites presentearam o rival com o anúncio de que farão em 23 de março uma manifestação em defesa da democracia.
O discurso da Paulista rendeu o oposto do que Bolsonaro pretendia. Na segunda-feira, a Polícia Federal incluiu no seu inquérito trecho da fala em que o mito tratou com naturalidade uma minuta de golpe que renegava. Na quinta, prendeu por ordem de Alexandre de Moraes três financiadores do 8 de janeiro. Nesta sexta, interrogou o general Freire Gomes, o então comandante do Exército que opôs uma resistência silenciosa ao golpe. Equipa-se agora para reinquirir o delator Mauro Cid.
Quando parecia que o ato de Bolsonaro produzira apenas um retrato, o petismo anunciou a pretensão de exibir seus músculos na rua. Condenou-se a passar as próximas três semanas respondendo às provocações do bolsonarismo, que já ostenta nas redes sociais uma empáfia de Popó diante de um novo Bambam. Se mobilizar mais gente, o lulismo não dispensará o governo de mostrar serviço. Se ficar aquém das sete quadras de Avenida Paulista que o bolsonarismo encheu, fornecerá material para o enredo da fraude nas urnas, fábula predileta no universo da Terra Plana.
A Bolsonaro interessa levar seu cercadinho ao meio-fio, para aumentar o custo político da provável condenação criminal pela tentativa de virar a mesa. A Lula convém cultivar a promessa de governar para todos, acomodando ao redor da mesa a frente ampla que lhe deu uma vitória magra em 2022.
Se a manifestação idealizada pelo PT serve para alguma coisa é para mostrar que a diferença entre a esperteza e a estupidez é que a esperteza tem limites. Ao manter a política de adesão sistemática à dinâmica da polarização, os aliados de Lula fornecem a ração regular de antipetismo que mantém o bolsonarismo pulsante.
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