Josias de Souza

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Opinião

General diz à PF como passará à história: de cócoras ou em pé?

Há certos momentos na vida em que a pessoa precisa tomar uma decisão definitiva. O general Freire Gomes vive um desses instantes definitivos no depoimento à Polícia Federal. Comandante do Exército no período em que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado, o general não está diante de uma escolha qualquer. Não é como se fosse escolher uma gravata entre muitas que poderia usar durante o interrogatório. De certa maneira, é como se o general tivesse que escolher um Freire Gomes entre muitos.

Uma escolha definitiva o então chefe do Exército já fez. Foi chamado de "cagão" pelo companheiro de armas Braga Netto por não aderir à trama de Bolsonaro. Mas não deu voz de prisão aos golpistas. Alega-se que testemunhou a conspiração em silêncio para não borrifar gasolina na fogueira. Sua presença no inquérito como suspeito de omissão mostra que a escolha pelo mutismo pode não ter sido a melhor. Durante a inquirição da PF, ao examinar as alternativas, o general decidirá: "Quero ser isso. Pelo resto da vida."

Se revelar aos investigadores todos os detalhes da tentativa de virada de mesa, esmiuçando fatos e declinando nomes sem restrições, Freire Gomes estará fazendo a coisa certa. Se optar novamente pelo silêncio ou pela construção de versões que lhe sejam menos desfavoráveis, a única coisa que o general tem a fazer em seguida, para ser coerente, é se esconder atrás da própria mediocridade e esperar por uma sentença capaz de dimensionar adequadamente a sua dimensão histórica.

A hora é agora. Freire Gomes tem a oportunidade de elevar a própria estatura ou rebaixar o pé-direito de sua biografia. Oferecendo dados que contribuam para o desfecho do inquérito sobre o golpe, o general cairá sobre o verbete da enciclopédia de pé. Tergiversando, entrará para a história de cócoras. Resta saber quem Freire Gomes decidiu ser.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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