Josias de Souza

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Opinião

Sul e Sudeste desligaram Lewandowski da tomada

A gestão de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça fez aniversário de um mês no último sábado. No mesmo dia, os governadores do Sudeste e do Sul, reunidos num consórcio, deram ao ministro um presente de grego. Alheios à promessa de Lewandowski de dedicar seus "melhores esforços" à segurança pública, anunciaram um pacto regional de combate à criminalidade.

A movimentação dos governadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina ocorreu às vésperas da chegada a Brasília do novo secretário Nacional de Segurança, Mario Sarrubbo. Escolhido por Lewandowski antes de tomar posse, Sarrubbo despediu-se da função de procurador-geral de Justiça de São Paulo apenas na última sexta-feira.

Os governadores levarão ao Congresso propostas de endurecimento da legislação penal. Para Lewandowski, "exacerbar as penas" não resolve. Na posse, o ministro defendeu a aliança da União com os estados. Mudou de assunto ao ser rebaixado pela conjuntura à condição de gerente da crise que resultou da fuga inédita de dois presos da cadeia federal de Mossoró. Lewandowski foi, por assim dizer, desligado da tomada pelo consórcio Sul-Sudeste.

Ainda não se sabe quem serão os candidatos à próxima sucessão. Mas é previsível que o combate à criminalidade será um tema prioritário da agenda eleitoral. Pesquisa Datafolha divulgada em dezembro mostrou que 50% da população desaprova a atuação da gestão Lula na segurança pública. Entre os signatários do pacto regional há três potenciais presidenciáveis: Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Eduardo Leite. Nenhum dispõe de resultados exuberantes na segurança.

Juntos, estados e União teriam dificuldades para se contrapor às facções criminosas. Desunidos, produzem confusão e empulhação. Em outubro de 2023, quatro meses antes de trocar a pasta da Justiça pela toga do Supremo, Flávio Dino lançou o Enfoc, Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas. Tinha cinco eixos, todos pendentes de detalhamento. Sob Lewandowski, o plano virou recheio de gaveta.

O pacto dos governadores prevê o compartilhamento de experiências. Entre elas a produção de quase 70 cadáveres em duas operações da Polícia Militar paulista na Baixada Santista. Ambas foram avalizadas por Tarcísio. Numa, foram passadas nas armas 28 pessoas. Noutra, os mortos somavam 38 até a semana passada.

Consolida-se a percepção de que o crime é organizado no Brasil porque lida com um combate estatal esculhambado.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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