Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Mudança de timbre em relação à Venezuela é flácida e chega tarde

Lula vinha retardando a reação do Brasil diante de medidas antidemocráticas de Nicolás Maduro. Ações que intoxicam a sucessão presidencial na Venezuela, marcada para 28 de julho. De repente, se deu conta de que aquele que inventa pretextos para que alguma coisa não seja feita acaba sendo desmoralizado por alguém que está fazendo a coisa.

Depois que pelo menos sete países da América Latina expressaram "grave preocupação" com o bloqueio do registro da candidatura da oposicionista Corina Yoris, o Itamaraty emitiu uma nota que contém rara e inédita mudança de timbre. Nela, o governo brasileiro informa que "acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral" vezuelano. O texto é flácido, insuficiente e tardio.

A flacidez decorre do fato de que Lula terceiriza à diplomacia palavras que deviriam soar nos seus lábios. De resto, embora faça referência ao bloqueio imposto à candidata antichavista, o Itamaraty limita-se a constatar que, até o momento, não houve "qualquer explicação oficial". A insuficiência deriva da ausência de uma cobrança necessária e explícita por explicações formais.

A percepção de que a manifestação do Itamaraty vem bem, mas chega tarde, é reforçada pela constatação de que o Brasil chora o risco do leite derramado sem fazer a única pergunta que interessa no momento: quem ousaria confiar uma bandeja com um copo de leite a Nicolás Maduro?

A interrogação ganha relevância porque, no caso venezuelano, o leite é uma metáfora para democracia. Nessa matéria, Maduro já protagonizou violações que envergonhariam qualquer garçom de boteco. Derramou líquidos bem mais graves do que o leite. Inabilitou candidatos adversários, prendeu assessores de rivais, pisoteou o chamado acordo de Barbados.

Se o melado vertido por Maduro serve para alguma coisa é para demonstrar que não se chega à ditadura por acaso. Ao se abster de constatar o óbvio, o governo deixar no ar uma outra pergunta incômoda: para que serve afinal a alegada liderança regional de Lula?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes