Josias de Souza

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Opinião

No Oriente Médio, uma insânia vai sendo encoberta pela outra

A ofensiva direta do Irã contra Israel instilou no mundo o receio de uma elevação sem precedentes na temperatura do Oriente Médio. A escalada bélica ainda não atingiu o ápice. Mas o excesso de irracionalidade desestimula o otimismo. Uma insânia gera a outra, a loucura seguinte atropela a anterior, os desatinos se multiplicam em outros.

Ao massacrar 1.200 pessoas em Israel no diz 7 de outubro e 2023, o Hamas produziu o maior atentado terrorista no mundo desde o 11 de Setembro. Ao destruir a Faixa de Gaza e enviar à cova mais de 30 mil palestinos, o governo de Israel converteu o que poderia ser resposta legítima numa hedionda punição coletiva que incluiu crianças e mulheres.

Com a imagem internacional já bem estilhaçada, Bejamin Netanyahu alvejou com mão de gato, sem admitir, a embaixada do Irã em Damasco, na Síria. Matou oficiais graúdos das Guardas Revolucionárias irananias. O Irã sentiu-se à vontade para também reivindicar o seu direito de resposta.

Dispensando os ataques por procuração que costuma realizar por meio de grupos como Hamas e Hezbollah, Teerã enviou seus drones e mísseis a Israel sem intermediários. Teve o cuidado de telegrafar o ataque. Alertados, os aliados de Tel Aviv, à frente os Estados Unidos, mobilizaram-se para ajudar no abate de praticamente 100% dos artefatos iranianos.

Os dois lados fazem pose de vitoriosos. A teocracia iraniana esclarece que não é um tigre de cera. E Israel forçou potências que retiravam o pé de sua canoa a darem meia-volta. Aliados do cleptogabinete de Netanyahu, como Joe Biden, viram-se compelidos a se reaproximar. Tentam agora evitar um contra-ataque que Israel diz ser incontornável.

Tal é a quantidade de insânia que o Oriente Médio vai mudando de patamar. Não é mais uma região sujeita a escaladas bélicas, mas um pedaço do mapa condenado ao descenso eterno das opções pacíficas. Há tempos não se fala na solução dos dois Estados. Nas últimas 48 horas, sumiram do noticiário até a destruição de Gaza, com suas mais de 30 mil covas palestinas e os mais de 100 refens que Israel não consegue resgatar. Não há humanismo que resista à insanidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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