Josias de Souza

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Opinião

Com mais de um ano de atraso, Lula faz acenos à classe média

Na campanha presidencial, Lula prometeu "governar para todos". Dois meses depois da posse, ao anunciar o aumento no valor das bolsas estudantis, declarou: "Além de cuidar das pessoas mais pobres, temos que cuidar das pessoas da classe média, porque são elas que sustentam a economia desse país".

No terceiro mês, ao relançar o programa Mais Médicos, Lula renovou o aceno: "Nós temos que nos dirigir um pouco à classe média brasileira. Ela tem sofrido muito neste país". Ficou no gogó.

Com mais de um ano de atraso, submetido ao alarme da impopularidade, Lula anunciou um pacote de crédito que incluiu, finalmente, o estrato médio da sociedade.

Batizado de "Acredita", o embrulho contém linha de crédito destinada a transferir clientes do Bolsa Família da informalidade para a formalização de pequenos negócios.

Inclui também uma versão do Desenrola voltada à renegociação de dívidas de micro e pequenas empresas. Pretende-se ainda renegociar dívidas remanescentes do Pronanpe, programa de crédito que socorreu empresas durante a pandemia.

De resto, o programa "Acredita" prevê medidas para impulsionar os financiamentos imobiliários para além do mercado dos imóveis populares do Minha Casa, Minha Vida.

Na prática, Lula tenta evitar um erro atribuído a Bolsonaro. O capitão governou apenas para um terço do eleitorado. Chegou ao final do mandato identificado sobretudo com seus seguidores.

Durante a corrida presidencial, Bolsonaro tentou atenuar a debilidade com doses cavalares de populismo eleitoral. Perdeu para Lula com a mais estreita margem de votos da história, apenas 1,8 ponto percentual.

Lula parece peceber que, num país ultrapolarizado, presidentes da República não deveriam dar-se ao luxo de ideologias. A queda de popularidade decorre de múltiplos fatores. Mas na raiz da encrenca está a dificuldade de dialogar com o diferente.

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Na bica de completar um ano e meio do seu teceiro mandato, Lula se deu conta de que não basta falar para convertidos. Os acenos à classe média parecem mais inspirados pelo desejo de recuperar eleitores que rejeiraram Bolsonaro por conta do fator democrático do que de atrair os recalcitrantes do bolsonarismo.

Resta agora saber se o novo programa de Lula, lançado por meio de medida provisória, será aprovado pelo Congresso. O anúncio foi feito num salão do Palácio do Planalto apelidado de Cabo Canaveral —uma alusão à base de lançamento de foguetes dos Estados Unidos. Não basta lançar programas. É preciso assegurar que eles não explodam antes de ganhar altitude.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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