Josias de Souza

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Opinião

No debate das blusinhas, Hang veste o número da gestão Lula

Na política, Luciano Hang ainda frequenta o universo paralelo do bolsonarismo. Mas os negócios empurraram o 'Véio da Havan' para perto do antagonista do mito inelegível. Embora continue detestando o mundo real, Hang se deu conta de que a realidade é o único lugar onde um varejista brasileiro em apuros pode obter a taxação da concorrência asiática. Na polêmica das "blusinhas chinesas", vestiu o mesmo número da gestão Lula.

Dono de uma das maiores redes de varejo do país, Hang enviou vídeo aos senadores. Nele, engrossa o coro do governo pela aprovação do projeto que carrega num de seus artigos a criação de imposto de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50 —coisa de R$ 250. Tenta obter sob Lula algo que o amigo Bolsonaro lhe negou. Embora batizado de "taxa das blusinhas", o tributo incidiria sobre um comércio eletrônico vasto e diversificado. Inclui produtos de cama, mesa, banho, eletrônicos e até acessórios automotivos.

No seu vídeo, Hang recitou números. Segundo ele, apenas três plataformas digitais asiáticas despejam no Brasil diariamente mais de um milhão de embrulhos. Por ano, esse comércio movimenta R$ 60 bilhões, com uma isenção tributária próxima de R$ 40 bilhões. "Ou todo mundo paga ou ninguém paga", diz o dono da Havan. "Se as empresas nacionais tivessem os mesmos privilégios [...], também venderíamos produtos pela metade do preço."

A taxação dos importados foi incluída de contrabando num projeto do governo que institui programa de descarbonização do setor automotivo. Passou na Câmara depois que o presidente da Casa, Arthur Lira, negociou com Lula e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) uma alíquota de 20%. No Senado, o relator Rodrigo Cunha decidiu excluir do projeto o novo imposto. A votação foi adiada para esta quarta-feira.

O Planalto articula a reinserção da taxa no texto. Líder de Lula no Senado, Jaques Wagner disse: "Nós não queremos quebrar o varejo nacional, os pequenos comerciantes, as pequenas manufaturas". Enrolado na mesma bandeira do emprego e da empresa nacional, Hang cutucou os senadores que receiam a impopularidade do tributo: "Não é hora de pensar nas próximas eleições, mas, sim, nas próximas gerações." Entre o bolsonarismo e a sobrevivência, o Véio da Havan optou pelo próprio bolso.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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