Toffoli desafia Freud e a sensatez
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Gilberto Freyre, morto há 37 anos, disse certa vez que o formalismo exacerbado leva os juristas a se isolarem da realidade brasileira. Precisariam de psicanálise para reencontrá-la. Hoje, o problema de certos ministros do Supremo Tribunal Federal não é o excesso, mas a ausência de liturgia.
A julgar pela desfaçatez com que se dedicam a rega-bofes e encontros com o lobismo político e empresarial, algumas togas já deram alta aos psicanalistas. Dias Toffoli é um dos que desafiam cotidianamente Freud e a própria sensatez.
A penúltima afronta de Toffoli ao recato produziu no Supremo a torrefação de R$ 39 mil. A verba pagou diárias internacionais de um agente de segurança que guarneceu as costas do ministro de 25 de maio a 3 de junho, no Reino Unido. Não há vestígio de interesse público na viagem.
No dia 1º, Toffoli compareceu à final da Champions League. Assistiu à vitória do Real Madrid sobre o Borussia Dortmund em camarote financiado pelo empresário Alberto Leite, dono da FS Security. Trata-se de um devoto de Bolsonaro, fã de Elon Musk e crítico de Alexandre de Moraes.
Antes, entre abril e maio, excursões de Toffoli por Londres e Madrid já haviam custado ao Supremo o desperdício de quase R$ 100 mil em diárias do segurança. Não foi o único. Tampouco será o último.
Em nota, a assessoria do ministro realçou que as viagens não afetam o ritmo de trabalho de Toffoli, que continua a proferir decisões e a participar das sessões plenárias, ainda que virtualmente.
Em despachos recentes, Toffoli cancelou as penas de Marcelo Odebrecht sem anular os benefícios empresariais obtidos a partir da delação do empreiteiro, anulou punições à Odebrecht e até à J&F, que nada tem a ver com a Lava Jato.
O Supremo talvez fizesse um bem a si mesmo se aplicasse em relação a Toffoli e outras togas assemelhadas a fórmula contida numa lei enunciada pelo ex-ministro da Fazenda e economista Mario Henrique Simonsen, segundo a qual é preferível pagar a comissão de certas obras para que os interessados esqueçam o projeto.
Mal comparando, pode ser mais vantajoso para o país que o Supremo pague as despesas de viagens internacionais e nacionais de Toffoli, desde que o magistrado seja dispensado de tomar decisões judiciais.
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