Josias de Souza

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Opinião

Tiro na orelha de Trump leva EUA da beira para dentro do abismo

Até aqui, os Estados Unidos viviam uma das mais cruciais campanhas eleitorais de sua história à beira do abismo. A tentativa de assassinato do candidato do Partido Republicano mudou essa realidade. O tiro que atingiu a orelha de Donald Trump empurrou a corrida pela Casa Branca para dentro do abismo.

Começou com dois dias de antecedência a Convenção Nacional Republicana desta segunda-feira. O atentado tonificou o encontro. O que seria apenas a formalização de uma candidatura ganhou ares de um ritual de canonização do candidato. Trump foi convertido pelo fortuito em vítima do ódio político que cultua e estimula.

A bala que por um triz não matou Trump pode ter ferido de morte o já cambaleante plano de reeleição do seu rival. Antes do final de semana, Joe Biden ralava para convencer financiadores e aliados de que não está caduco. Agora, além de não brigar com a própria língua, terá que presentear o adversário com uma trégua. Pior: precisará guerrear contra uma miragem.

Onipresente nas redes sociais, a imagem de Trump com sangue no rosto, cercado de agentes de segurança, punho erguido, tendo a bandeira americana como pano de fundo, é a mais eficiente peça publicitária que o marketing político jamais criou. Mestre em cenografia, Trump ainda injetou som na miragem: "Lutar, lutar, lutar".

A menos de quatro meses de da eleição, o primitivismo antidemocrático está tinindo nos cascos. Numa disputa em que o voto é facultativo, parte da resistência talvez enxergue o comparecimento às urnas como desperdício de tempo.

Não é que a reta final da campanha eleitoral americana migrou de uma fase precária para um ciclo sombrio. A questão é que a própria democracia da superpotência flerta com o insondável. Uma eventual decadência dos Estados Unidos, especulada há mais de 50 anos, ganhou um raro contorno de realidade.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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