De tão incrível, vitória de Maduro é fantasticamente inacreditável
Tomando-se como real a proclamação oficial do resultado da sucessão presidencial na Venezuela, a maioria dos eleitores reelegeu a superinflação, a recessão, o desemprego, a corrupção, a repressão e o êxodo de 25% do país. Ao anunciar a terceira vitória de Nicolás Maduro, o Conselho Nacional Eleitoral, órgão que contabiliza os votos, informou, com outras palavras, que a maioria dos venezuelanos decidiu premiar a ruína com mais seis anos de mandato.
A escassez de transparência e o excesso de pesquisas independentes que farejavam a vitória da oposição resultaram numa onda de suspeição. Excetuando-se países como Rússia, China, Cuba e Nicarágua —os cúmplices de sempre— os demais silenciaram ou duvidaram explicitamente do resultado, cobrando transparência.
Ninguém ignora que a democracia é um regime em que as pessoas têm ampla e irrestrita liberdade para exercitar a sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. Mas a insensatez tem limites. Eleger a sandice uma vez é temeridade. Duas vezes é teimosia. Três vezes, suicídio.
Rival consentido por Maduro, Edmundo González é mero boneco de María Corina Machado, a líder oposicionista que o regime inabilitou. O triunfo da oposição não seria garantia de êxito. Mas até a ilusão de que é possível começar tudo de novo, do zero, parece alternativa melhor do que a reeleição do caos.
O hipotético vigor da ditadura apodrecida surpreende até a sombra de Maduro. A vocação dos venezuelanos para o suicídio, por inverossímil, tem aroma de fraude. Muita gente trata incrível e inacreditável como sinônimos. Engano. "Incrível" soa como elogio. "Inacreditável" é depreciativo. De tão incrível, a vitória de Maduro é fantasticamente inacreditável.
Deixe seu comentário