Surge um lugar onde Bolsonaro sonha com a companhia de Lula
No Brasil da ultrapolarização, quem vê bolsonarista abraçado com petista corre para apartar. É briga. Surgiu, no entanto, um lugar onde Bolsonaro sonha com a companhia de Lula. Como um palmeirense infiltrado na arquibancada da fiel torcida do Corinthians, o capitão torce para que o Tribunal de Contas da União livre seu arquirrival do constrangimento de devolver à União um relógio Cartier que recebeu de presente do fabricante francês, em 2005, no seu primeiro mandato.
Em 2016, o TCU mandou Lula devolver mais de 500 presentes recebidos durante as suas Presidências. Nessa época, ficou decidido que apenas itens personalíssimos —roupas, perfumes e comidas, por exemplo— poderiam ser levados pelos inquilinos do Planalto. Presentes caros pertencem à União. O Cartier não foi devolvido.
Provocado pela representação de um deputado bolsonarista, os nove ministros que integram o plenário do TCU terão que decidir em sessão marcada para esta quarta-feira se obrigam Lula a devolver o relógio ou se avalizam parecer técnico segundo o qual a regra de 2016 não pode ser aplicada retroativamente.
O Cartier retido por Lula vale R$ 60 mil. Investigado por se apropriar de joias das arábias estimadas pela Polícia Federal em R$ 6,8 milhões, Bolsonaro faz pose de vítima. Sua defesa esgrime a tese dos "dois pesos, duas medidas". O investigado acalenta a ilusão de que, nas páginas do processo do TCU estrelado por Lula, as más companhias fazem um péssimo acompanhante parecer melhor do é.
A experiência ensina que, em política, quase tudo é permitido, exceto deixar-se surpreender. O caso das joias sauditas arde no noticiário desde março de 2023. Lula pelo menos 16 meses para refletir sobre o erro de não ter incorporado o Cartier ao acervo da Presidência. Quem comete um erro e não o corrige comete outro erro. E Bolsonaro, na torcida: "Uh, tererê!"
136 comentários
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Maria Regina Melchert de Carvalho e Silva
duas diferenças:o relógio não foi presente de nenhuma autoridade de outro país e, sim, da empresa Cartier. Outra diferenças monumental: o relógio está sendo usado pelo presidente em exercício, totalmente legítimo: ele não desviou, não levou para vender fora do Brasil... está em uso e, se o TCU determinar, eledevolve quando deixar o posto de presidente, seu posto atual. Não sou petista, não soufã do Lula, mas o que é certo, é certo.
Julio Lopes
Então vamos chamar também o FHC ! País hipócrita! Lula cumpriu a lei ao seu tempo, Bolsonaro não à cumpriu. Fora que Bolsonaro recebeu as joias de uma ditadura árabe e assassina.
Silvio Cesar Braga Correa
Tentativa rasa de falsa equivalência! O Lula não mandou nenhum apaniguado vender o relógio no sigilo em casa de penhor ou leilão online no exterior! "Uma escolha muito difícil", capítulo 233.