Adormeci em sabatina de Nunes
Um dos operadores da campanha de Ricardo Nunes define a ascensão de Pablo Marçal nas pesquisas como "um despertador". Nessa versão, o prefeito de São Paulo teria acordado para a urgência de uma reação. Com uma dúvida insone, sintonizei na entrevista de Nunes à GloboNews. Asseguro que tentei assistir até o fim. Mas confesso que adormeci.
Com o mesmo carisma de uma pedra de gelo, o prefeito castigou as pálpebras da audiência. O timbre evasivo e escorregadio teve o efeito de um barbitúrico. O sonífero revelou-se irresistível no trecho em que Nunes foi questionado sobre o desempenho precário do município no último Ideb, o índice que mede a qualidade do ensino nas escolas.
A nota de São Paulo no ano passado foi 5,6, abaixo da média nacional de 5,7. Nunes atribuiu o flagelo à pandemia da covid. Mas não soube explicar por que cidades com arcas bem menores que as paulistanas e submetidas ao mesmo vírus tiveram melhor desempenho.
Na manhã desta quarta-feira, fui atrás do vídeo com a reprodução da sabatina de Nunes. A peça contém outras ofensas à inteligência alheia. Por exemplo: na contramão do relato de inúmeras vítimas, o prefeito negou que a prefeitura tenha dificultado o acesso ao aborto legal na cidade de São Paulo ao suspender o serviço no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, unidade de referência.
De resto, Nunes desconversou sobre temas espinhosos como a presença do PCC nas empresas concessionárias de ônibus de São Paulo e a suspeita do seu envolvimento e de uma empresa de sua família na máfia das creches. A reiteração de mais do que já foi dito não faz desaparecer o mesmo que todos sabem estar sob investigação.
Nunes avalia que a simples aparição de Bolsonaro na sua propaganda eleitoral televisiva, que começa na sexta-feira, potencializará sua votação junto ao eleitorado conservador. Quer dizer: quem esperava por uma reação pessoal do prefeito deve puxar uma cadeira. Ou um ronco.
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