Metade dos paulistanos vai às urnas para votar no mal menor
Na superfície, o mais recente Datafolha sobre a corrida pela prefeitura de São Paulo informa que Ricardo Nunes (27%) cresceu, Guilherme Boulos (25%) oscilou para cima e Pablo Marçal (19%) variou para baixo. Hoje, Nunes e Boulos iriam para o segundo round. Quem mergulha nas dobras da pesquisa esbarra num detalhe que não deveria passar despercebido: para 50% do eleitorado paulistano, a escolha do candidato a prefeito neste ano se dá porque não há na disputa uma opção melhor.
Eleição é mais ou menos como bandejão. O bufê de 2024 oferece uma dezena de opções na capital paulista. A despeito de toda essa hipotétiva variedade, o Datafolha revela que metade dos eleitores da maior e mais rica capital do país vai às urnas com a sensação de que votará num mal menor, não num bom prefeito.
No Brasil pós-ditadura, a democracia foi recepcionada como uma espécie de musa. Respirava-se uma atmosfera de urgência que fez do brasileiro um devoto do voto. Nas últimas três décadas, um pedaço da sociedade migrou da devoção para o transtorno. A atmosfera de frustração deveria produzir reflexão.
O problema não é que parte da plateia encara a urna como loteria. A questão é que a eleição tornou-se para muitos uma loteria sem prêmio. É como se o eleitor descobrisse da maneira mais desagradável o verdadeiro sentido da célebre tese de Churchill —aquela segundo a qual a democracia é a pior forma de governo salvo todas as demais.
Ou a política se qualifica ou o voto se consolida como mero equívoco renovado a cada quatro anos. Quem é compelido a escolher o menos ruim no pressuposto de que o mal às vezes é mesmo necessário sempre correrá o risco de se surpreender com a descoberta de que há males que vêm para pior.
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