Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Apagão: Tarcísio vai da 'questão arbórea' para o expurgo da Enel

A opinião de Tarcísio de Freitas sobre a Enel mudou de patamar. Em menos de um ano, entre o temporal de novembro do ano passado e a tempestade da última sexta-feira, a posição do governador de São Paulo sobre a concessionária de energia elétrica evoluiu da fase da indulgência absoluta para o estágio do mata e esfola.

No temporal de 2023, 4,2 milhões de imóveis residenciais e comerciais ficaram sem energia elétrica em 27 municípios do estado —metade apenas na região metropolitana da capital. Muitos permaneceram à luz de velas por cinco dias. Tarcísio atribuiu o breu a uma inusitada "questão arbórea".

Na sexta-feira passada, o blecaute desligou da tomada mais de 2,1 milhões de imóveis na capital paulista e em cidades como Cotia, Taboão da Serra e São Bernardo do Campo. Decorridos quatro dias, parte da clientela continua sem luz. Tarcísio agora já não quer podar apenas árvores. Deseja ceifar o próprio contrato de concessão da Enel.

Nesta terça-feira, com a impaciência dos consumidores a pino, Tarcísio cobrou ações mais firmes do governo Lula. Lembrou que a legislação prevê uma gradação de punições para a inépcia reincidente —da "intervenção na concessão" à abertura de um "processo de caducidade". Caducidade, explicou o governador, é um outro nome para a extinção do contrato com a concessionária.

Tarcísio vê um "jogo de empurra" entre o Ministério de Minas e Energia e a Aneel, agência que deveria fiscalizar o setor elétrico. Defende que o Tribunal de Contas da União entre em cena para interromper a pantomima.

Ironicamente, a Aneel é dirigida por Sandoval Feitosa, indicado sob a Presidência do aliado Bolsonaro. A pasta de Minas e Energia é comandada por Alexandre Silveira, guindado à Esplanada de Lula na cota do PSD de Gilberto Kassab, homem forte do secretariado de Tarcísio.

Com tantas conexões, o governador faria um bem a si mesmo se esquecesse por um instante o fator eleitoral. Nessa hipótese, poderia evoluir da retórica ácida para um diálogo com Lula. Bem-sucedida, a articulação talvez substituísse os golpes de barriga por algo que se pareça com uma solução.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes