Josias de Souza

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Opinião

Nunes disfarça mal sua covardia

O crime de Nero não foi ter tocado enquanto Roma ardia, mas ter tocado mal. O crime de Nunes não foi ter fugido do debate no meio do apagão, mas ter disfarçado mal a covardia.

Pensando com as pernas, o prefeito escapou de madrugada de um compromisso matutino. Dispondo das 24 horas do dia, marcou uma "reunião extraordinária" para o exato instante em que havia se comprometido a debater com Boulos.

O álibi de Nunes é frágil: as "urgências da prefeitura", surgidas "desde a tempestade de sexta-feira passada". O cúmplice é óbvio demais: Tarcísio. Em vez do lufa-lufa às claras com o rival, o colo do aliado no escurinho.

Candidatos confessam de bom grado suas virtudes, mas nunca as covardias. Nunes fugiu à regra. Outros eventos serão cancelados "por conta das mudanças climáticas previstas para sexta-feira", anotou o comunicado.

Quer dizer: o prefeito não foge apenas do temporal da semana passada. Vive a síndrome das tempestades que estão por vir. Faltou-lhe coragem até para subscrever a própria fuga. Terceirizou as desculpas ao comitê eleitoral.

Nunes pode fugir de Boulos, da ansiedade, do imponderável, de São Pedro, do raio que o parta... Mas a fuga principal é aquela com que Nunes tenta escapar do encontro consigo mesmo, sua maior ameaça.

A dez dias da eleição, o prefeito tem medo de mostrar ao eleitor e, sobretudo, a si mesmo, quem ele é. Um candidato que descrê do próprio favoritismo corre o risco de perder a eleição não para o adversário, mas para o espelho.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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