Janja pode fazer o que quiser, desde que pague suas contas
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De passagem pelo Vietnã, Lula trocou um dedo de prosa com os repórteres. A certa altura, foi instado a comentar as críticas da oposição às viagens de Janja. Sobre a ida antecipada dela para o Japão, disse que Janja "vai continuar fazendo o que gosta." Sobre a viagem a Paris, declarou que Janja foi "a convite do companheiro Macron para discutir a aliança global contra a fome e a pobreza".
Viúvo de Marisa Letícia, uma dona de casa de mostruário, declarou que "a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa. Ela vai estar aonde ela quiser, vai falar o que ela quiser e vai andar onde ela quiser."
Embora não precisasse diminuir a antiga companheira para enaltecer a atual, deve-se louvar o apreço do presidente à desenvoltura de Janja. Mas as palavras de Lula pedem um complemento.
Janja pode viajar para onde quiser e fazer tudo o que gosta, desde que retire da própria bolsa a verba que paga suas despesas. Quando voar nas asas do contribuinte, só pode estar onde estiver o interesse público. De resto, precisa prestar contas. Hoje, o custo e a serventia dos deslocamentos de Janja, sempre seguida por séquitos de auxiliares e seguranças, têm a transparência de um copo de requeijão.
A Constituição brasileira não prevê em nenhum dos seus artigos atribuição para os cônjuges de presidentes. No início do governo, Lula cogitou criar um cargo para Janja. Foi desaconselhado. A nomeação deixaria a mulher do presidente ao alcance dos requerimentos de convocação da oposição no Congresso. Lula deveria reconsiderar sua decisão, pois Janja viaja ao exterior com desenvoltura de ministra.
Embarcou sete dias antes do marido para o Japão, junto com equipe precursora do Planalto. Para quê? No mês passado, já havia testemunhado um debate sobre a fome do mundo, dessa vez em Roma. Acompanhou o ministro petista do Bolsa Família, Wellington Dias. Qual foi a sua contribuição?
No ano passado, Janja foi duas vezes a Nova York. Numa, embarcou dias antes de Lula para participar de um painel sobre fome na Universidade de Columbia. Noutra, foi testemunhar um debate na ONU sobre a situação da mulher. Esteve no Qatar para um evento sobre educação. Representou o marido na cerimônia de abertura das Olimpíadas.
Poder, Janja já tem. Só falta o cargo. No final do ano passado, numa entrevista concedida às margens do encontro do G20, ela soou explícita: "Acho que quando eu ligo para um ministro, talvez não seja só a Janja falando. Talvez, por exemplo, na questão da cocção limpa, talvez eu esteja sendo a voz de milhares de mulheres. É isso que as pessoas precisam entender".
Antes da posse do marido, Janja avisara que iria "ressignificar" o papel de primeira-dama. Pode imprimir à sua passagem por Brasília o significado que quiser, desde que leve em conta um detalhe: a Constituição brasileira não concede poder nem significado a ninguém apenas por ser mulher de presidente da República.
99 comentários
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Elizabeth de Vasconcellos Aun
Perfeito, Josias!!!!
Hamilton Octavio de Souza
Não tenho a menor simpatia por teorias da conspiração, fazer fofoca ou produzir fakenews. Mas essa viagem da Janja merece melhor trabalho de jornalismo investigativo e elaboração de reportagem esclarecedora. Ela viajou uma semana antes de Lula e ninguém sabe se fez escala antes de chegar ao Japão e o que fez por lá até o início da viagem oficial do presidente. Ela apareceu em Paris sem que ninguém soubesse de seu paradeiro, o que fez em Paris antes de participar de evento sobre nutrição. Se ela viaja com dinheiro público e usa estrutura oficial do Itamaraty, a agenda precisa ser pública e a prestação de contas também. Tem muito segredo nessa viagem.
Neli Aparecida de Faria
Ela, Janja, não é ministra! Ela destituiu o Vice-presidente ! Representar o presidente é o vice. Ela pode ir onde quiser, desde que pague suas despesas! Um escárnio! Mais responsabilidade com o Dinheiro Público. O que as Feministas dirão de mais essa misoginia do lula? Silêncio abissal!