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Sócio de empresa usada para fretar jato com 578 kg de cocaína mora na Cohab

Wagner Oliveira Ferreira, 32, um dos sócios da empresa acusada de pagar 130 mil euros (R$ 893 mil) pelo fretamento de um avião flagrado com 578 kg de cocaína no aeroporto internacional de Salvador, disse ao UOL que a companhia dele é pobre, está inativa e nunca teve esse dinheiro.
O rapaz, sócio da Lopes & Ferreira Assessoria Ltda, mora em uma casa humilde, de propriedade da sogra, na Cohab (Conjunto Habitacional) de Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo. Ele é casado e tem dois filhos.
"Soube pela imprensa que a Lopes & Ferreira é apontada como responsável pelo fretamento do avião de Portugal. Acredito que usaram o nome da empresa com má-fé. Nunca tivemos esse dinheiro. Até nosso escritório foi fechado há dois ou três anos", contou à reportagem.
A Lopes & Ferreira, criada para prestar assessoria jurídica, foi registrada com capital social de R$ 20 mil. No documento da Taxi Aéreo Omini Aviação, sediada em Cascais, a 40 km de Lisboa, consta que a empresa de São Paulo, por meio de um representante que se identificou como Marcelo Lemos, pagou o fretamento da aeronave.
Wagner afirmou ao UOL que não conhece e nunca ouvir falar de Marcelo Lemos. "Realmente não o conheço. E posso garantir que a nossa empresa jamais teve condições financeiras para fretar qualquer avião", ressaltou.
A sede da Lopes & Ferreira era na Vila Santa Maria, zona norte. Segundo Wagner, desde que o escritório fechou, ele trabalha em casa, prestando serviços de assessoria jurídica sobre processos que tramitam na área cível.
O rapaz revelou estar assustado por causa do envolvimento do nome da empresa com um avião apreendido com mais de meia tonelada de cocaína: "Realmente é assustador e muito preocupante. Não faço a mínima ideia de quem possa ter feito isso", acrescentou.
O outro sócio da empresa, o advogado Marcos Paulo Lopes Barbosa, foi procurado pela reportagem do UOL, por meio de telefone celular e mensagens no Wathsapp. Porém, ele não deu retorno. Procurada, a Polícia Federal disse que o caso está sob sigilo.
Hangar em Jundiaí
O avião modelo Dassault Falcon 900 da empresa Táxi Aéreo Omni Aviação decolou do aeródromo de Tires, em Cascais, no dia 27 de janeiro e chegou no aeroporto internacional de Salvador no dia seguinte.
Estavam a bordo o português João Loureiro, ex-presidente do Boavista, clube da primeira divisão do futebol de Portugal e campeão nacional na temporada 2000/2001, o espanhol Mansur Mohamed Heredia e também três tripulantes.
Após os trâmites alfandegários, o avião seguiu para o aeroporto de Jundiaí levando João Loureiro e Mansur Heredia. O lobista brasileiro Rowles Magalhães teria mantido encontro com o dirigente português em São Paulo.
Segundo a Polícia Judiciária de Portugal, Magalhães comprou uma empresa de João Loureiro por mil euros e tinha planos para adquirir a companhia portuguesa dona do Falcon 900. O lobista negou qualquer envolvimento com a cocaína achada na aeronave.
O UOL apurou que o jato ficou no hangar da Fly Away no aeroporto de Jundiaí até o dia 7 de fevereiro. A reportagem telefonou para o hangar, mas funcionários não quiseram se manifestar.
Autoridades portuguesas apuraram que no dia 29 de janeiro, um casal ainda não identificado foi ao hangar e pediu a chave do avião para o piloto. Ele se recusou em entregar e depois consultou a empresa em Portugal. A autorização foi concedida.
Em 7 de fevereiro, o avião retornou para Salvador. Durante o voo, o piloto detectou problemas no trem de pouso e avisou a torre de controle. No dia 9, após inspeções na aeronave, mecânicos, policiais federais e civis encontraram a droga escondida na fuselagem e em outras partes do jato.
Ouvido pela Polícia Federal, João Loureiro negou envolvimento com a droga apreendida. O telefone celular dele foi entregue à PF para análise e depois devolvido.
Até o início da tarde desta terça-feira (2), João Loureiro não havia retornado para Portugal. Os rumores são de que ele está com muito medo. O espanhol Mansur Heredia deixou o Brasil e teve o carro apreendido para perícia no aeródromo de Tires, em Cascais.
João Loureiro está na mira da Polícia Federal do Brasil e da Polícia Judiciária de Portugal. Autoridades lusitanas acreditam que toda a ação foi planejada em solo português e investigam também se a droga foi encomendada por Sérgio Roberto de Carvalho, 62, o Major Carvalho, chamado por europeus de "Escobar brasileiro".
Considerado um dos maiores narcotraficantes da Europa, "Escobar brasileiro", ex-policial militar de Mato Grosso do Sul, é procurado pela polícia no Velho Continente. A Polícia Judiciária diz que ele comprou uma empresa aérea e fugiu para Kiev, na Ucrânia, no próprio avião.
Na fuga, Major Carvalho deixou para trás 11 milhões de euros (R$ 75,5 milhões) escondidos em uma van no estacionamento de um prédio alugado por ele no centro de Lisboa. A PF apurou que ele enviou 45 toneladas de cocaína para a Europa via portos brasileiros. As remessas foram avaliadas em R$ 2,25 bilhões.