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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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SP: Socialite investigada por morte de namorado retira tumor no Einstein

Anne Cipriano Frigo, empresária suspeita de mandar matar o namorado - Reprodução
Anne Cipriano Frigo, empresária suspeita de mandar matar o namorado Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

08/11/2021 04h00

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A socialite Anne Cipriano Frigo, 46, presa pela suspeita de ter mandado matar o namorado Vitor Lúcio Jacinto, 42, foi transferida, no começo de outubro, do Complexo do Carandiru para o Hospital Israelita Albert Einstein, onde está internada sob escolta. No dia 5 de outubro, ela passou por cirurgia para a retirada de um tumor no cérebro.

Por razões humanitárias, os advogados de Anne pediram à Justiça a retirada de algemas e autorização para a paciente ser acompanhada por um familiar ou cuidador, pois está sem equilíbrio e com dificuldade de locomoção. Denúncia anônima feita à Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos diz que após a cirurgia ela foi mantida "com as mãos e os pés algemados à cama do hospital".

A juíza Ana Carolina Munhoz de Almeida, da 3ª Vara do Júri, indeferiu os pedidos no último dia 21. Segundo a magistrada, a escolta e vigilância penitenciárias são necessárias por se tratar de hospital externo e o uso de algemas é imprescindível para garantir inclusive a segurança da acusada.

Na decisão, a juíza observou que cabe à SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) adotar os procedimentos de segurança na custódia e escolta dos presos, avaliando os riscos que envolvem tal atividade.

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Anne Cipriano Frigo passou por uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro
Imagem: Reprodução

Consultas na prisão

Anne estava presa na Penitenciária Feminina de Sant'Anna, no Carandiru, zona norte da capital, desde 18 de agosto de 2021. Relatórios médicos da SAP aos quais a coluna teve acesso com exclusividade mostram que ela passou por consultas nos dias 30 de agosto e 8, 16 e 17 de setembro.

Em 1º de outubro, ela retornou à consulta com o psiquiatra na penitenciária. O médico constatou que a socialite estava com instabilidade de marcha (dificuldades para caminhar), alterações de reflexo e de coordenação motora com queda frequente. Há informações de que ela caiu no presídio e sofreu traumatismo craniano.

A prisioneira foi encaminhada para passar por neurologista no Hospital do Mandaqui, na zona norte, para onde vai a maioria dos presos com doenças graves e sem recursos nem advogados famosos. No dia seguinte, Anne foi transferida para o Hospital Albert Einstein e em 5 de outubro os médicos a operaram.

De acordo com a defesa de Anne, o tumor cerebral é de grau 4, o mais agressivo; ela sofreu paralisia do lado esquerdo do corpo; tem cefaleia de difícil controle; é submetida à fisioterapia e medicação específica; necessita passar por quimioterapia e radioterapia e precisa continuar internada.

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A empresária Anne Cipriano Frigo e o namorado Vitor Lúcio Jacinto, morto em junho
Imagem: Divulgação

Homicídio por R$ 200 mil

Investigações da Polícia Civil apontam que Anne descobriu que Vitor a traía com outras mulheres e ofereceu R$ 200 mil para o corretor de imóveis Carlos Alex Ribeiro de Souza, 39, matá-lo. O crime aconteceu em 16 de junho, quando o corpo da vítima foi desovado em uma mata na Rua Açucena-do-Campo, Riviera Paulista, zona sul.

Carlos Alex ou Carlão, como é conhecido, confessou o crime em depoimento prestado no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). No celular dele havia foto do cheque assinado pela socialite. Ela negou ser a mandante e atribuiu o assassinato exclusivamente ao corretor de imóveis.

Mas o DHPP comprovou a farsa, esclareceu o caso e montou a dinâmica do homicídio, com a ajuda de câmeras de monitoramento de trânsito e de seguranças patrimoniais, além de análises de telefones celulares apreendidos com os acusados.

De acordo com o DHPP, Anne estava inconformada com as traições e com as idas de Vitor a casas de swing e a cassinos. A socialite e Carlos se encontraram em uma padaria em Moema, zona sul, em junho, quando a empresária ofereceu o dinheiro para o corretor matar o namorado dela.

No dia 16 de junho, Carlos, a bordo de um Audi verde de uma cliente, foi ao Condomínio Gênesis 2, em Alphaville, Santana do Parnaíba, onde Vitor morava em uma casa de alto padrão. O aluguel mensal de R$ 20 mil era bancado pela socialite. Ela presenteava o namorado com carros importados.

O corretor conheceu Vitor cinco anos atrás, quando a vítima era segurança de um restaurante. Ambos haviam combinado de olhar um terreno. Vitor tinha interesse em comprar o imóvel. Câmeras de segurança do condomínio mostram os dois saindo no carro exatamente às 15h29m09s.

Como Vitor foi assassinado

Em depoimento, Carlos contou que na rodovia Castello Branco, Vitor começou a mexer no celular. Ele se aproveitou da distração do amigo, pegou a pistola Taurus calibre 40 e atirou nele. A vítima morreu na hora.

O corretor dirigiu por uma hora e 15 minutos e após percorrer 49,6 km chegou ao local onde o corpo foi desovado. Câmeras de trânsito filmaram o Audi verde sendo seguido por uma motocicleta às 16h45m28s até a rua Açucena-do-Campo.

Policiais do DHPP apuraram que a moto era pilotada por Leandro Lopes Brasil, 33, amigo de Carlos. Os investigadores apuraram que ambos desovaram o corpo de Vitor na região de mata e depois tentaram carbonizá-lo. As câmeras filmaram os dois deixando o local às 16h57 do dia 16 de junho.

Ambos conheciam bem aquele lugar. Carlos morava a 7 km de distância e Leandro, a 4,7 km. Depois da desova, o corretor foi para um prédio de luxo na Vila Nova Conceição, endereço de Anne, onde chegou em uma moto.

Câmeras de segurança registraram o encontro de Carlos e da socialite no edifício. Eles conversaram durante 25 minutos. O corretor foi embora às 18h38m30s. Quase duas horas depois, Anne chegou sozinha no condomínio de Alphaville e foi filmada na portaria às 20h18m3s.

Relatórios de investigação do DHPP mencionam que em 19 de junho, três dias após a morte do namorado, a socialite comemorou o aniversário dela em um restaurante nos Jardins. Os policiais apuraram que Anne e Carlos usaram o telefone celular de Vitor, enviando mensagens para simular que ele estava vivo e até o dia 21 de junho agiram como se nada tivesse acontecido.

Uma das mensagens falsas era de felicitação pelo aniversário de Anne. O texto dizia: "parabéns, meu amor. Que nessa jornada de nossa vida você seja muito feliz. Te desejo toda a felicidade do mundo e muita saúde".

Dias depois do encontro do corpo de Vitor, o corretor e a socialite ficaram bastante preocupados. Segundo o DHPP, no dia 28 de junho Carlos descobriu que uma viatura policial havia feito diligências no endereço da imobiliária dele, na Vila Nova Conceição.

Temendo o possível cumprimento de mandado de busca e apreensão na imobiliária, Carlos tratou de ir ao local para retirar uma bicicleta de Vitor avaliada em R$ 100 mil, e uma moto elétrica que havia retirado da casa da vítima em Alphaville. Os objetos foram levados para o apartamento de Anne.

Mais uma vez as câmeras de segurança ajudaram o DHPP. O corretor e a socialite foram filmados conversando no hall do prédio. Às 17h36m. Anne aparece nas imagens levando a bicicleta. Os dois acabaram presos no dia seguinte.

Anne negou todas as acusações. Ela contou que conheceu Vitor em um site de relacionamentos em 2017 e que três meses depois se encontraram em um café em Santana. Passados oito meses foram morar juntos.

A socialite afirmou que contraiu HPV e como só mantinha relações sexuais com Vitor, o questionou e ele confessou a traição. Alegou que ofereceu R$ 200 mil a Carlos para que ele investigasse o ex-marido dela. Acrescentou que Carlos a ameaçou e usou o celular de Vitor para mandar mensagens. Disse que não comemorou o aniversário em 19 de junho e que almoçou com a mãe e os filhos e jantou com uma amiga.

Outro lado

Celso Sanchez Vilardi, advogado de Anne Frigo, não quis se manifestar em relação às acusações contra sua cliente e limitou-se em dizer que o estado de saúde dela é grave e que aguarda a evolução do quadro clínico.

Jefferson Rosa Batista, advogado de Carlos Alex disse que o cliente tem consciência do erro cometido e está arrependido. O defensor entrou na Justiça com ordem de liminar de habeas corpus pedindo que o cliente responda ao processo em liberdade, alegando que ele é honesto, primário com bons antecedentes, tem residência fixa e sempre colaborou em relação às investigações.

Marcelo de Almeida Trindade, advogado de Leandro, afirmou que o cliente é inocente da acusação de ocultação de cadáver, não há prova objetiva contra ele e que isso será provado no decorrer do processo.