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SP: Socialite investigada por morte de namorado retira tumor no Einstein
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A socialite Anne Cipriano Frigo, 46, presa pela suspeita de ter mandado matar o namorado Vitor Lúcio Jacinto, 42, foi transferida, no começo de outubro, do Complexo do Carandiru para o Hospital Israelita Albert Einstein, onde está internada sob escolta. No dia 5 de outubro, ela passou por cirurgia para a retirada de um tumor no cérebro.
Por razões humanitárias, os advogados de Anne pediram à Justiça a retirada de algemas e autorização para a paciente ser acompanhada por um familiar ou cuidador, pois está sem equilíbrio e com dificuldade de locomoção. Denúncia anônima feita à Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos diz que após a cirurgia ela foi mantida "com as mãos e os pés algemados à cama do hospital".
A juíza Ana Carolina Munhoz de Almeida, da 3ª Vara do Júri, indeferiu os pedidos no último dia 21. Segundo a magistrada, a escolta e vigilância penitenciárias são necessárias por se tratar de hospital externo e o uso de algemas é imprescindível para garantir inclusive a segurança da acusada.
Na decisão, a juíza observou que cabe à SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) adotar os procedimentos de segurança na custódia e escolta dos presos, avaliando os riscos que envolvem tal atividade.
Consultas na prisão
Anne estava presa na Penitenciária Feminina de Sant'Anna, no Carandiru, zona norte da capital, desde 18 de agosto de 2021. Relatórios médicos da SAP aos quais a coluna teve acesso com exclusividade mostram que ela passou por consultas nos dias 30 de agosto e 8, 16 e 17 de setembro.
Em 1º de outubro, ela retornou à consulta com o psiquiatra na penitenciária. O médico constatou que a socialite estava com instabilidade de marcha (dificuldades para caminhar), alterações de reflexo e de coordenação motora com queda frequente. Há informações de que ela caiu no presídio e sofreu traumatismo craniano.
A prisioneira foi encaminhada para passar por neurologista no Hospital do Mandaqui, na zona norte, para onde vai a maioria dos presos com doenças graves e sem recursos nem advogados famosos. No dia seguinte, Anne foi transferida para o Hospital Albert Einstein e em 5 de outubro os médicos a operaram.
De acordo com a defesa de Anne, o tumor cerebral é de grau 4, o mais agressivo; ela sofreu paralisia do lado esquerdo do corpo; tem cefaleia de difícil controle; é submetida à fisioterapia e medicação específica; necessita passar por quimioterapia e radioterapia e precisa continuar internada.
Homicídio por R$ 200 mil
Investigações da Polícia Civil apontam que Anne descobriu que Vitor a traía com outras mulheres e ofereceu R$ 200 mil para o corretor de imóveis Carlos Alex Ribeiro de Souza, 39, matá-lo. O crime aconteceu em 16 de junho, quando o corpo da vítima foi desovado em uma mata na Rua Açucena-do-Campo, Riviera Paulista, zona sul.
Carlos Alex ou Carlão, como é conhecido, confessou o crime em depoimento prestado no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). No celular dele havia foto do cheque assinado pela socialite. Ela negou ser a mandante e atribuiu o assassinato exclusivamente ao corretor de imóveis.
Mas o DHPP comprovou a farsa, esclareceu o caso e montou a dinâmica do homicídio, com a ajuda de câmeras de monitoramento de trânsito e de seguranças patrimoniais, além de análises de telefones celulares apreendidos com os acusados.
De acordo com o DHPP, Anne estava inconformada com as traições e com as idas de Vitor a casas de swing e a cassinos. A socialite e Carlos se encontraram em uma padaria em Moema, zona sul, em junho, quando a empresária ofereceu o dinheiro para o corretor matar o namorado dela.
No dia 16 de junho, Carlos, a bordo de um Audi verde de uma cliente, foi ao Condomínio Gênesis 2, em Alphaville, Santana do Parnaíba, onde Vitor morava em uma casa de alto padrão. O aluguel mensal de R$ 20 mil era bancado pela socialite. Ela presenteava o namorado com carros importados.
O corretor conheceu Vitor cinco anos atrás, quando a vítima era segurança de um restaurante. Ambos haviam combinado de olhar um terreno. Vitor tinha interesse em comprar o imóvel. Câmeras de segurança do condomínio mostram os dois saindo no carro exatamente às 15h29m09s.
Como Vitor foi assassinado
Em depoimento, Carlos contou que na rodovia Castello Branco, Vitor começou a mexer no celular. Ele se aproveitou da distração do amigo, pegou a pistola Taurus calibre 40 e atirou nele. A vítima morreu na hora.
O corretor dirigiu por uma hora e 15 minutos e após percorrer 49,6 km chegou ao local onde o corpo foi desovado. Câmeras de trânsito filmaram o Audi verde sendo seguido por uma motocicleta às 16h45m28s até a rua Açucena-do-Campo.
Policiais do DHPP apuraram que a moto era pilotada por Leandro Lopes Brasil, 33, amigo de Carlos. Os investigadores apuraram que ambos desovaram o corpo de Vitor na região de mata e depois tentaram carbonizá-lo. As câmeras filmaram os dois deixando o local às 16h57 do dia 16 de junho.
Ambos conheciam bem aquele lugar. Carlos morava a 7 km de distância e Leandro, a 4,7 km. Depois da desova, o corretor foi para um prédio de luxo na Vila Nova Conceição, endereço de Anne, onde chegou em uma moto.
Câmeras de segurança registraram o encontro de Carlos e da socialite no edifício. Eles conversaram durante 25 minutos. O corretor foi embora às 18h38m30s. Quase duas horas depois, Anne chegou sozinha no condomínio de Alphaville e foi filmada na portaria às 20h18m3s.
Relatórios de investigação do DHPP mencionam que em 19 de junho, três dias após a morte do namorado, a socialite comemorou o aniversário dela em um restaurante nos Jardins. Os policiais apuraram que Anne e Carlos usaram o telefone celular de Vitor, enviando mensagens para simular que ele estava vivo e até o dia 21 de junho agiram como se nada tivesse acontecido.
Uma das mensagens falsas era de felicitação pelo aniversário de Anne. O texto dizia: "parabéns, meu amor. Que nessa jornada de nossa vida você seja muito feliz. Te desejo toda a felicidade do mundo e muita saúde".
Dias depois do encontro do corpo de Vitor, o corretor e a socialite ficaram bastante preocupados. Segundo o DHPP, no dia 28 de junho Carlos descobriu que uma viatura policial havia feito diligências no endereço da imobiliária dele, na Vila Nova Conceição.
Temendo o possível cumprimento de mandado de busca e apreensão na imobiliária, Carlos tratou de ir ao local para retirar uma bicicleta de Vitor avaliada em R$ 100 mil, e uma moto elétrica que havia retirado da casa da vítima em Alphaville. Os objetos foram levados para o apartamento de Anne.
Mais uma vez as câmeras de segurança ajudaram o DHPP. O corretor e a socialite foram filmados conversando no hall do prédio. Às 17h36m. Anne aparece nas imagens levando a bicicleta. Os dois acabaram presos no dia seguinte.
Anne negou todas as acusações. Ela contou que conheceu Vitor em um site de relacionamentos em 2017 e que três meses depois se encontraram em um café em Santana. Passados oito meses foram morar juntos.
A socialite afirmou que contraiu HPV e como só mantinha relações sexuais com Vitor, o questionou e ele confessou a traição. Alegou que ofereceu R$ 200 mil a Carlos para que ele investigasse o ex-marido dela. Acrescentou que Carlos a ameaçou e usou o celular de Vitor para mandar mensagens. Disse que não comemorou o aniversário em 19 de junho e que almoçou com a mãe e os filhos e jantou com uma amiga.
Outro lado
Celso Sanchez Vilardi, advogado de Anne Frigo, não quis se manifestar em relação às acusações contra sua cliente e limitou-se em dizer que o estado de saúde dela é grave e que aguarda a evolução do quadro clínico.
Jefferson Rosa Batista, advogado de Carlos Alex disse que o cliente tem consciência do erro cometido e está arrependido. O defensor entrou na Justiça com ordem de liminar de habeas corpus pedindo que o cliente responda ao processo em liberdade, alegando que ele é honesto, primário com bons antecedentes, tem residência fixa e sempre colaborou em relação às investigações.
Marcelo de Almeida Trindade, advogado de Leandro, afirmou que o cliente é inocente da acusação de ocultação de cadáver, não há prova objetiva contra ele e que isso será provado no decorrer do processo.
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