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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Irmã de 'Escobar brasileiro' diz que prisão é 'uma Sodoma'

Ex-major Sergio Roberto de Carvalho - Reprodução
Ex-major Sergio Roberto de Carvalho Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/02/2022 04h00

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A empresária Lucimara de Carvalho, 56, irmã de Sérgio Roberto de Carvalho, 63, o Major Carvalho, um dos maiores narcotraficantes do mundo, comparou a Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru, zona norte de SP, à cidade bíblica de Sodoma e diz que na prisão tem droga, cachaça e funk.

A comparação foi feita em carta escrita ao juiz da 14ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela decretação da prisão preventiva de Lucimara. Ela é acusada de comandar o núcleo financeiro do Major Carvalho, chamado na Europa de "Escobar brasileiro" em alusão ao colombiano Pablo Escobar.

Irmã de ex-major Sergio Carvalho diz que presídio é uma Sodoma e tem droga, cachaça e funk - Reprodução - Reprodução
Irmã de ex-major Sergio Carvalho diz que presídio é uma Sodoma e tem droga, cachaça e funk
Imagem: Reprodução

Na correspondência de duas páginas, com data de 27 de maio de 2021, Lucimara diz que, no presídio, onde ficou recolhida pouco mais de sete meses, "existe um árduo convívio com drogas, cachaças, funk e muitas brigas entre as mulheres que são casadas com outras mulheres".

Lucimara afirma que é uma cidadã que sempre teve e terá conduta correta como ser humano e empresária. Em outro trecho reclama de tumultos na prisão e acrescenta que "nunca conviveu com esses tipos de pessoas e que isso está alterando o seu estado psicológico".

No último parágrafo da carta, a empresária suplica ao juiz para que a retire do "ambiente degradante e desumano" pois lá sente somente vontade de morrer. Ela finaliza fazendo o seguinte desabafo: "Pelo amor a Deus, já se passaram seis meses que estou nessa Sodoma".

A irmã do Major Carvalho deu entrada na Penitenciária Feminina da Capital em 23 de novembro de 2020, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Enterprise para combater o tráfico internacional de drogas liderado pelo "Escobar brasileiro".

Os advogados dela entraram com vários recursos na Justiça pedindo a prisão domiciliar da empresária. Os defensores alegaram que ela é inocente de todas as acusações e apresentaram laudos e atestados médicos, indicando que a cliente tem graves problemas de saúde, principalmente respiratórios.

A empresária foi solta em 9 de julho de 2021 e está em prisão domiciliar. Ela foi indiciada por lavagem de dinheiro. Mas, segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), Lucimara também responde pelos crimes de associação ao tráfico de drogas e associação criminosa.

Imagens do ex-major

Já o irmão da empresária continua foragido. O "Escobar brasileiro" é procurado em todo o mundo, especialmente na Europa e nos Emirados Árabes. No Velho continente, ele usava o nome falso de Paul Wouter e chegou a forjar a própria morte.

Em 19 de novembro de 2020, o delegado da Polícia Federal Leonardo Marino Gomes dos Santos e a agente Mikhaela Paim Azevedo viajaram para Portugal com a missão de prender o Major Carvalho, durante a deflagração da Operação Enterprise.

Dois dias antes da chegada dos policiais federais, o "Escobar brasileiro" viajou, em um jato próprio, para a Espanha. Segundo a Polícia Judiciária portuguesa, o avião do Major Carvalho fez escala na Itália, onde ele tratou de negócios ligados ao tráfico de drogas, e depois seguiu para a Romênia.

Há informações de que a Polícia Judiciária de Portugal conseguiu imagens do Major Carvalho subindo as escadas do jato e embarcando na aeronave. Existem suspeitas de que o narcotraficante foi avisado por um informante sobre a ida dos agentes federais do Brasil a Lisboa para prendê-lo.

O maior narcotraficante brasileiro em atividade deixou para trás 12 milhões de euros. O dinheiro foi encontrado em uma Van estacionada na garagem de um prédio na avenida da Liberdade, em Lisboa, uma das áreas mais nobres da capital portuguesa.

Na semana passada, em um desdobramento da Operação Enterprise, a Polícia Federal cumpriu oito mandos de prisão no Paraná. Os alvos - entre eles funcionários do terminal portuário de Paranaguá - são acusados de enviar carregamentos de cocaína em contêineres de navios para a Europa.

Investigações da Polícia Federal brasileira apontam que a quadrilha liderada pelo Major Carvalho tentou exportar quase 50 toneladas de cocaína para o continente europeu, avaliadas em R$ 2,25 bilhões. Os portos preferidos dos criminosos são o de Paranaguá, no Brasil, e o de Antuérpia, na Bélgica.