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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Policial civil é preso em flagrante fazendo a segurança de cassino em SP

O cassino é localizado na zona sul de São Paulo - Divulgação
O cassino é localizado na zona sul de São Paulo Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

17/02/2022 13h19Atualizada em 18/02/2022 16h38

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Um policial civil foi preso hoje por policiais militares sob a acusação de ser o segurança de um cassino localizado na avenida Indianópolis, 1.137, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo. O dono da casa de jogos de azar, 17 funcionários e 12 jogadores também foram detidos.

A reportagem apurou que o policial civil é papiloscopista do 3º Distrito Policial de Diadema, na Grande São Paulo. O nome dele não foi divulgado. Apenas as iniciais foram reveladas: D.C.

Os policiais militares da 3ª Companhia do 3º Batalhão (Vila Clementino) chegaram ao endereço após receber uma comunicação sobre roubo em andamento no local. Assim que chegaram, os PMs foram recebidos pelo policial civil.

Ele se encontrava na portaria, se identificou como papiloscopista da Polícia Civil e disse aos militares que estava tudo bem. Outras guarnições da Polícia Militar também compareceram ao endereço. Os PMs notaram uma movimentação estranha.

O papiloscopista ainda tentou convencer os militares de que estava tudo em ordem. Os PMs, no entanto, pediram para fazer uma averiguação no imóvel e subiram para o andar superior, onde havia uma grande movimentação de pessoas.

O imóvel é comercial, tem 750 metros quadrados, cinco quartos, duas vagas na garagem e chegou a ser colocado à venda por R$ 12 milhões em anúncio em um site imobiliário. Na mesma página também é citado que, em caso de aluguel, o valor mensal seria de R$ 55 mil.

No andar de cima, os PMs flagraram os funcionários retirando uma roleta do cassino e seguindo em direção aos fundos da casa. Os militares também encontraram em outra sala três mesas de roleta, mais funcionários e alguns apostadores.

Em outro cômodo foram encontradas mais uma roleta e fichas de apostas. Uma outra porta encontrava-se trancada e foi arrombada pelos policiais militares. No recinto estavam escondidos o dono do imóvel, a mulher dele e um homem que se apresentou como funcionário responsável pelo caixa da casa de jogos.

Foram apreendidos ainda duas máquinas de cartões de banco, quatro rádios de comunicação — um deles era usado pelo policial civil —, além de R$ 4 mil e anotações. O dono do cassino, os funcionários e os apostadores foram levados para o 16º Distrito Policial (Vila Clementino).

O policial civil recebeu voz de prisão pela acusação de prevaricação (crime cometido por funcionário público que consiste em retardar ou deixar de praticar ato de ofício). Ele foi levado para a Corregedoria da Polícia Civil e, se condenado, pode pegar pena de três meses a um ano de prisão.

Segundo a Polícia Militar, a casa de jogos possuía uma grande estrutura e tinha até Sushi Bar e piscina aquecida. Era o policial civil que determinava quem podia ou não entrar no cassino clandestino.

Depois da publicação da reportagem, a defesa do dono do imóvel enviou uma nota à coluna. Segundo os advogados Eduardo Samoel Fonseca e Marcos Sá, "o local jamais funcionou como um cassino ou algo semelhante, pois a mera existência de apetrechos ligados à prática do pôquer não configura a contravenção penal de exploração de jogo de azar.

Os defensores sustentam que o "pôquer é jogo de habilidade, raciocínio lógico e de estratégia, de modo que o elemento sorte não é fator definitivo para a prática de tal desporto, valendo lembrar que a própria Justiça reconheceu, em outra ocasião, que partidas de pôquer não configuram a alegada contravenção penal".

Ainda segundo os criminalistas, "a ação policial se fundou em denúncia anônima e destituída de qualquer elemento, o que a torna absolutamente ilegal e à margem do Estado Democrático de Direito, o que certamente será reconhecido pela Justiça".