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Em carta, fundador do PCC revela por que quis explodir fórum em SP
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Juízes, promotores de Justiça, policiais civis e militares eram o alvo principal do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste paulistana, onde a facção criminosa deixou um carro-bomba com 34 kg de explosivos, em 8 de março de 2002, para matar as autoridades.
O atentado só não se concretizou porque o detonador do artefato acionado à distância por controle remoto não funcionou. O ataque causaria danos irreparáveis. Na época, o fórum da Barra Funda tinha cinco mil funcionários e um público diário de sete mil pessoas.
Homens do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), unidade de elite da Polícia Militar, foram acionados para neutralizar a bomba. Peritos da corporação ficaram impressionados e preocupados com a plena eficácia da montagem dos componentes explosivos.
Um laudo assinado por três peritos do Gate dizia que os efeitos da detonação eram suficientes para provocar danos materiais consideráveis, mortes, ferimentos e princípios de incêndio. Fragmentos da bomba seriam lançados em todas as direções com energia e velocidade suficientes para causar uma grande tragédia.
A ação terrorista, a princípio, foi assumida por César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, um dos oito fundadores do PCC, em depoimento prestado à Polícia Civil em 24 de maio de 2002. Em agosto de 2006, ele foi assassinado por rivais na Penitenciária 1 de Avaré (SP).
Depois de 14 anos da neutralização do carro-bomba, José Márcio Felício, o Geleião, outro fundador do PCC, escreveu na prisão uma carta de 13 páginas, assumindo sozinho o planejamento do ataque e inocentando Cesinha e os demais acusados de envolvimento no episódio.
A coluna teve acesso à correspondência. Ela foi escrita por Geleião, à caneta com tinta vermelha, em 17 de abril de 2016, na Penitenciária de Iaras (SP). A carta era endereçada à 6ª Vara Criminal da Capital, responsável pela ação penal sobre o caso.
Mortos na Castelinho
Geleião e Cesinha usaram o mesmo argumento para explicar porque queriam explodir o fórum da Barra Funda. O motivo seria vingar as mortes dos 12 integrantes do PCC na praça de pedágio da rodovia José Ermírio de Moraes, conhecida como Castelinho, em 5 de março de 2002.
As mortes aconteceram três dias antes do encontro do carro-bomba no fórum. Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), os 12 homens do PCC foram assassinados por policiais militares do Gradi (Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância).
O Gradi recrutou, com autorização judicial, presos rivais do PCC em penitenciárias paulistas. Os prisioneiros foram levados para um quartel do CPChoque (Comando de Policiamento de Choque), onde usavam telefone celular e aliciavam integrantes do PCC a participar de atos criminosos.
Os presos convenceram os 12 homens a roubar um avião pagador que jamais existiu, no aeroporto de Sorocaba. O bando foi morto na estrada. O MP-SP classificou a ação do Gradi de "farsa macabra". Os PMs acusados jamais foram pronunciados pelos homicídios.
Colaborou com a PM
Na carta, Geleião argumenta que planejou a explosão do fórum da Barra Funda para se vingar dos policiais militares e das autoridades que desenvolveram planos para matar quem fazia parte da facção criminosa, usando os detentos retirados das prisões.
O fundador do PCC alega que, num primeiro momento, planejou a montagem do carro-bomba para pressionar as autoridades carcerárias paulistas porque estava preso em Bangu 1, no Rio de Janeiro, e desesperado querendo voltar para São Paulo.
Em outro parágrafo, ele argumenta que já havia retornado ao seu estado de origem e então decidiu usar o carro-bomba para matar as autoridades e policiais militares em represália aos 12 integrantes do PCC mortos na Operação Castelinho.
O autor da carta afirma ainda que estava assumindo sozinho o plano do atentado terrorista para não cometer injustiça com os comparsas inocentes, alguns já falecidos. Em outra correspondência, ele acrescenta que fez isso não porque é bonzinho ou "laranja" e sim porque é bandido e tem palavra.
Geleião só não detalhou nas 13 páginas que ele também foi retirado da prisão, com autorização judicial, e levado para um quartel da Polícia Militar na cidade de Oswaldo Cruz (SP), onde ajudou os militares a investigar e desarticular as ações da facção criminosa.
Expulso do PCC e chamado de traidor, Geleião foi jurado de morte pela organização que ajudou a fundar. Ele morreu aos 60 anos, vítima de Covid, em 10 de maio de 2021, no Centro Hospitalar Penitenciário de São Paulo. Geleião ficou 42 anos preso. Ininterruptamente.
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