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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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DHPP indicia empresário e policial penal por morte de traficante do PCC

O traficante Cara Preta, do PCC, morto a mando de um empresário, segundo a polícia - Reprodução
O traficante Cara Preta, do PCC, morto a mando de um empresário, segundo a polícia Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

06/12/2022 04h00Atualizada em 06/12/2022 11h05

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O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 36, e o policial penal David Moreira da Silva, 38, foram indiciados pelas mortes de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, narcotraficante do PCC (Primeiro Comando da Capital), e do motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.

Cara Preta e Sem Sangue foram assassinados a tiros no dia 27 de dezembro de 2021, na rua Armindo Guaraná, 110, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. O autor dos disparos, Noé Alves Schaun, 42, foi morto na mesma região pelo "tribunal do crime" do PCC em 16 de janeiro deste ano. Ele teve a cabeça decepada.

O delegado Rodrigo Borges Petrilli, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), indiciou formalmente Antônio Vinícius e David no último dia 29. O empresário foi interrogado e negou a participação no crime. O policial penal manifestou o desejo de permanecer calado. Os dois estão soltos.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Antônio Vinícius Gritzbach e David Moreira da Silva, mas publicará na íntegra a versão dos defensores de ambos assim que houver uma manifestação.

Para o DHPP, o empresário é o mandante do crime. Segundo as investigações conduzidas por Petrilli, da 3ª Delegacia de Repressão a Homicídios Múltiplos do DHPP, Antônio Vinícius contratou David para planejar e Noé para executar o assassinato.

A polícia diz que Vinícius movimentou R$ 200 milhões de Cara Preta em criptomoedas e se apropriou indevidamente do dinheiro. O narcotraficante exigiu a imediata devolução do montante e por isso foi assassinado. Sem Sangue estava com ele e também acabou morto.

A equipe do delegado Petrilli reuniu provas robustas contra o empresário e o policial penal. As investigações apontaram que David comprou telefone celular em uma loja em São Miguel Paulista, zona leste, apenas para falar com Noé sobre o planejamento do assassinato de Cara Preta.

Noé também adquiriu um aparelho para trocar mensagens com o policial penal. Eles cadastraram os equipamentos fraudulentamente. As análises das ERBs (Estação Rádio Base) que fazem a conexão de telefonia celular colocam os dois na cena do crime e mostram que eles se comunicaram antes, durante e depois do assassinato.

Braço queimado

O DHPP apurou ainda que David incendiou o Fiat Palio cinza, de duas portas, usado por Noé no crime, e abandonado na rua do Túnel, 123, bairro de Penha de França, zona leste. O policial penal sofreu queimadura no braço quando pôs fogo no automóvel.

Os investigadores do DHPP descobriram que um dia depois do incêndio, ele viajou com a família para Mongaguá e procurou atendimento médico no município da Baixada Santista.

Os policiais tiveram acesso à ficha médica, à receita com o remédio prescrito e também localizaram a farmácia onde o medicamento foi vendido. David mentiu à polícia e contou que tinha se queimado durante um churrasco, ao colocar fogo na churrasqueira.

Fuga de policial foi medo de ser assassinado. Quando David descobriu que o PCC havia matado Noé, ele ficou com medo de ter o mesmo fim e foi com a família para Mongaguá. Depois viajou para Minas Gerais. Segundo o DHPP, Vinícius depositou R$ 10 mil na conta dele para ajudá-lo a fugir.

De acordo com a Polícia Civil, em depoimentos anteriores, tanto David quanto Vinícius haviam dito que eles não tinham qualquer vínculo com Noé.

No inquérito policial, o delegado Petrilli menciona que Vinícius ofereceu R$ 300 mil para a conclusão do assassinato, sendo que o policial penal ficou com R$ 100 mil e deu R$ 200 mil para Noé. Para o delegado, o crime foi cometido mediante promessa de recompensa e com o uso de emboscada.
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As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.