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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Celular grampeado de preso leva à quadrilha de policiais ligada ao PCC

Policiais civis e militares faziam parte da quadrilha - Reprodução/Gaeco
Policiais civis e militares faziam parte da quadrilha Imagem: Reprodução/Gaeco

Colunista do UOL

08/12/2022 04h00

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Uma investigação sobre um núcleo de presos responsável pelo tráfico de drogas na Penitenciária 2 de São Vicente (SP) e na região do Alto Tietê ajudou o Ministério Público do Estado de São Paulo a identificar uma quadrilha de policiais civis e militares ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Tudo começou em meados de 2020, quando o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) deu início à Operação Intramuros para apurar o tráfico de drogas planejado e coordenado pelo preso Valdenilson Silva dos Santos, 29, o Saruê, dentro da P-2 de São Vicente.

O telefone celular utilizado por Saruê na prisão foi monitorado com autorização judicial. Segundo o Gaeco, ele era o principal usuário da linha telefônica e, de dentro da cela, controlava o tráfico de drogas em Suzano, Itaquaquecetuba e outras regiões do Alto Tietê, na Grande São Paulo.

Foram interceptadas várias conversas entre Saruê, o sócio e cunhado dele, Jerônimo da Silva Menger, 48, o Bicudo, ambos integrantes do PCC, e outras nove pessoas nas ruas acusadas de integrar a quadrilha envolvida com a venda de entorpecentes e lavagem de dinheiro.

Com o avanço das investigações, o Gaeco de São Vicente interceptou diálogos de Saruê com um gerente dos pontos de vendas de drogas dele, chamado até então de Will. Os diálogos apontaram que Will pagava propina aos policiais da região de Suzano para poder traficar sem ser incomodado.

O Gaeco de Guarulhos, cuja área de atuação abrange as cidades do Alto Tietê, foi comunicado por promotores de Justiça de São Vicente sobre o possível envolvimento de policiais da região com traficantes ligados ao PCC e instaurou procedimento investigatório criminal para apurar o caso.

Quem é Will? Os agentes do Gaeco descobriram que Will é o apelido de William Araújo dos Santos, 30, o homem de confiança de Saruê. Os dois tiveram vários diálogos interceptados a partir de 10 de julho de 2020, uma semana após Will deixar a prisão em liberdade condicional. Nesse mesmo dia, Saruê diz a um comparsa que pagará R$ 10 mil mensais para policiais ficarem longe dos pontos de venda de drogas dele. Em 28 de agosto de 2020, ele avisa Will que irá colocá-lo como gerente do tráfico e que ele terá à disposição uma pistola 9 mm e um revólver 38.

Em 3 de setembro de 2020, Saruê pergunta a Will se ele conhece "casa-bomba", local onde se armazena drogas e armas. O gerente é orientado a alugar dois imóveis, sendo um para morar e outro apenas para esconder o armamento e os entorpecentes.

Policiais presos

Em outros diálogos mantidos em novembro de 2020, Will revela para um comparsa que paga periodicamente propina a policiais para poder explorar o tráfico. Na conversa de 14 de novembro ele diz que tinha pago R$ 1.100 e que à noite daria mais R$ 1.900.

O Gaeco de Guarulhos apurou que os pagamentos eram feitos para dois informantes (gansos) e intermediários dos policiais identificados como João Felipe dos Santos, 36, o Chico, e Júlio César dos Santos Vilela, 48, conhecido como Gordo ou Bola. Eles acabaram presos.

As investigações prosseguiram até outubro deste ano, quando o juiz Fernando de Oliveira Camargo, da 1ª Vara Criminal de Suzano, decretou a prisão de quatro policiais civis e dois policiais militares, acusados de integrar a organização criminosa.

Quem são os seis?

  • Um delegado:

Eduardo Peretti Guimarães, 53. Acusado pelo Gaeco de extorquir três vezes um homem em Mogi das Cruzes — R$ 20 mil, R$ 5 mil e R$ 7,5 mil — em 19 de janeiro de 2021 e em 23 e 25 de dezembro do mesmo ano, e de manter no mesmo período um depósito com grande quantidade de cocaína em Suzano.

  • Três policiais civis:

- Wilson Isidoro Júnior, 53, o Ninho. Segundo o Gaeco, ele desviou drogas de traficantes em Suzano em 24 de março de 2021 e roubou R$ 7 mil de um traficante da zona leste em fevereiro deste ano.

- Ronaldo Batalha de Oliveira, 37, o Nardo. Ainda de acordo com o Gaeco, Nardo era cauteloso ao usar o telefone celular, mas foi mencionado pelos denunciados incontáveis vezes, o que demonstra a participação e relevância dele dentro da estrutura do grupo criminoso.

- Diego Bandeira Lima, 42, o Carioca. Acusado de roubar drogas e exigir dinheiro de um traficante em São Paulo em 22 de junho deste ano e de tentar vender entorpecentes em Suzano para uma mulher em 25 de junho de 2021.

  • Dois cabos da PM:

- Jorge Luiz Cascarelli Júnior, 48, o Casca. Contra ele, pesam as acusações de roubar dinheiro de um traficante em Mogi das Cruzes em 1º de outubro de 2021, de oferecer entorpecentes para outro traficante três dias depois em Suzano e de tentar roubar drogas de outro traficante em 25 de abril de 2022 em Mogi das Cruzes.

- Jocimar Canuto de Paula, 47, o Molecote. Acusado pelo Gaeco de tentar subtrair drogas de um traficante em Mogi das Cruzes em 19 de abril deste ano e de roubar dinheiro de traficantes em Guaianases, zona leste de São Paulo, em 5 de agosto de 2022.

Eles foram denunciados à Justiça pelos crimes de associação à organização criminosa, tráfico de drogas, roubo e extorsão e viraram réus.

O destino de Will

Will teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Fernando Oliveira Camargo em 21 de outubro deste ano. Ele é réu em outro processo desmembrado e responde pelo crime de associação ao tráfico de drogas. O mandado de prisão foi cumprido no mesmo dia.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos seis policiais presos; dos dois informantes dos agentes nem de Will, mas publicará versão dos defensores de todos eles caso haja uma manifestação.