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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Coronel bolsonarista deu 12 tiros em ação que matou piloto do PCC em Goiás

O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, que prestou serviços ao PCC - Reprodução
O piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, que prestou serviços ao PCC Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

19/02/2023 04h00

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As forças de segurança identificaram como Nathan Moreira Cavalcante e Paulo Ricardo Pereira Bueno os dois homens mortos junto com o piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, 36, em Abadia de Goiás (GO), na última sexta-feira (17), durante operação da Polícia Militar.

Segundo a PM de Goiás, agentes do COD (Comando de Operações de Divisas), unidade de elite da corporação, foram checar denúncia sobre movimentação estranha de helicópteros em uma propriedade rural, mas acabaram recebidos a tiros, revidaram e mataram o trio no confronto.

helicopteros, apreensão - Polícia Militar de Goiás/Divulgação - Polícia Militar de Goiás/Divulgação
Três homens foram mortos em operação da PM-GO, um deles o piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, considerado inimigo número 1 do PCC
Imagem: Polícia Militar de Goiás/Divulgação

Durante a operação da PM em Abadia de Goiás foram apreendidos três helicópteros. As investigações apontaram que duas aeronaves estavam em nome de Felipe.

Os militares disseram, a princípio, ter encontrado 5 kg de cocaína com os suspeitos. Depois afirmaram que eram 100 kg de pasta base.

O piloto e o PCC

Felipe era considerado o inimigo número 1 do PCC (Primeiro Comando da Capital). Foi ele quem levou para a morte os chefes da facção Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, assassinados a tiros em 15 de fevereiro de 2018 na região metropolitana de Fortaleza (CE).

A bordo da aeronave conduzida por Felipe estava Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, narcotraficante da Baixada Santista. Ele era dono do helicóptero usado no crime e foi assassinado a mando do PCC, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, uma semana após o duplo homicídio no Ceará.

Não se elegeu

nathan, operação - Reprodução/INstagram - Reprodução/INstagram
Nathan Moreira Cavalcante
Imagem: Reprodução/INstagram
paulo, instagram - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Paulo Ricardo Pereira Bueno
Imagem: Reprodução/Instagram

No B.O. (Boletim de Ocorrência) registrado pela Polícia Civil de Goiás, ao qual a reportagem teve acesso, consta que Felipe portava pistola 9 mm, Nathan usava pistola calibre 380, assim como Paulo Ricardo. Pelo que foi apurado preliminarmente os comparsas do piloto não tinham antecedentes criminais.

No histórico do B.O. é mencionado que o tenente-coronel Edson Luís Souza Melo Rocha, 40, um oficial bolsonarista e defensor da pena de morte, efetuou 12 disparos na ação com a pistola Sig Sauer P320, calibre 9 mm. Já o major Renyson Castanheira Silva, 38, atirou três vezes com a carabina XM15.

Rocha, conhecido como "Xerife de Goiás", foi candidato a deputado federal com o nome de Coronel Raiado (Avante), em outubro do ano passado, teve 19.811 votos e não se elegeu.

Em 28 de junho de 2021, o oficial participou da ação que culminou com a morte do serial killer Lázaro Barbosa. O criminoso foi acusado de matar quatro pessoas da mesma família, em 9 de junho daquele ano, em Ceilândia, no Distrito Federal. A caçada ao matador durou praticamente 20 dias. À imprensa, o tenente-coronel afirmou que mais de 60 tiros acertaram Lázaro.

Jurado de morte

Desde que deixou a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) pela porta da frente, no dia 16 de abril de 2021, Felipe, autor de delação premiada envolvendo a cúpula do PCC, passou a ser jurado de morte pela maior facção criminosa do Brasil.

Em entrevista à coluna em 5 de maio de 2021, o piloto disse: "Eu não posso negar para você. Tenho muito medo de morrer". Após as delações dele, a Polícia Federal desarticulou o maior braço financeiro do PCC, prendeu dezenas de pessoas e bloqueou R$ 1 bilhão em bens e em contas bancárias.

Na entrevista exclusiva à coluna, Felipe contou que nunca trabalhou para o PCC nem era integrante da organização. Ele relatou também que prestava serviços aéreos para Cabelo Duro e foi contratado por ele para fazer um voo no Ceará e transportar duas pessoas que não conhecia.

Última mensagem

O piloto de helicóptero decidiu se entregar à polícia de Goiás alguns dias depois dos assassinatos de Gegê do Mangue e de Paca e em seguida concordou em fazer a delação premiada. Ele foi solto por determinação da Justiça do Ceará.

Na última quarta-feira (15), Felipe enviou mensagem à coluna para lembrar que os assassinatos de Gegê do Mangue e Paca tinham completado cinco anos. Ele acrescentou que estava "sossegado" e aguardando o julgamento.

Além de Felipe, outros nove réus respondem ao processo no Ceará. Três deles, Erick Machado Santos, 38, o Rick da Baixada; Renato Oliveira Mota, 32, e Maria Jussara da Conceição Ferreira Santos, 49, estão foragidos e tiveram a prisão a prisão preventiva decretada.

Por causa das delações feitas à PF, Felipe era considerado um dos maiores inimigos da cúpula do PCC. Os agentes cansaram de orientá-lo a ter cautela. O piloto, no entanto, chegou inclusive a ser personagem de um documentário sobre a facção criminosa e foi entrevistado pela jornalista Thais Nunes.