DHPP não esclarece crimes do PCC e fica de fora de força-tarefa de PF e MP
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) — uma das mais importantes unidades da Polícia Civil de São Paulo —, ficou fora da operação deflagrada hoje pela Polícia Federal e Ministério Público Estadual para prender agentes da corporação envolvidos em corrupção.
Foram alvos de mandados de prisão um delegado e quatro investigadores da Polícia Civil acusados de envolvimento em corrupção pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, oito dias antes do assassinato dele, ocorrido em 8 de novembro no aeroporto internacional de Guarulhos.
Até hoje o DHPP não conseguiu esclarecer as mortes das vítimas da guerra interna no PCC, cujo pivô foi o próprio empresário Gritzbach, como divulgou esta coluna no dia 11 de novembro deste ano.
O conflito sangrento espalhou medo e pânico no Tatuapé, zona leste de São Paulo, e teve início com os assassinatos de Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, narcotraficante influente e conceituado no PCC, e o motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.
As vítimas foram mortas a tiros às 12h10 de 27 de dezembro de 2021 em frente ao número 110 da rua Armindo Guaraná, no Tatuapé. O crime chocou os moradores do bairro e só fez aumentar a sensação de insegurança na região.
O PCC saiu na frente da Polícia Civil e em pouquíssimo tempo elucidou o duplo assassinato. Apurou que Cara Preta e Sem Sangue foram mortos por Noé Alves Schaum, 42, um criminoso da zona leste com passagens por roubo.
O "tribunal do crime" do PCC sequestrou Noé. Ele foi julgado e condenado à morte. O "réu" acabou decapitado e teve a cabeça jogada em uma praça no Tatuapé. Os membros inferiores e superiores foram decepados e encontrados em Suzano, na Grande São Paulo.
Crimes impunes
Vinícius foi acusado de ter contratado Noé para matar Cara Preta e Sem Sangue. O agente penitenciário Davi Moreira da Silva, 39, foi apontado como intermediador dessa contratação. O Tribunal do Júri da Capital apontou os dois como os responsáveis pelo duplo homicídio
As ameaças contra Vinícius começaram poucas horas depois dessas duas mortes. Ele foi sequestrado pelo PCC, ameaçado de morte e levado para um imóvel no Tatuapé. No cativeiro estavam Cláudio Márcio de Almeida, 50, Django, e Rafael Maeda Pires, 31, o Japa.
Tanto Django quanto Japa eram sócios de Cara Preta no tráfico internacional de drogas. Além disso, Django e Cara Preta também eram acionistas da empresa de ônibus UPBus, alvo da operação Fim da Linha, deflagrada pelo MP-SP em abril deste ano.
Advogado preso
Um dos presos na operação de hoje é justamente o advogado Ahmed Hassan Saleh, um dos acionistas da UPBus. Ele também foi delatado por Gritzbach. Na delação, o empresário revelou que o advogado ofereceu R$ 3 milhões pela cabeça dele.
Segundo o MP-SP, durante o interrogatório de Vinícius no cativeiro, Django defendeu o empresário e foi contra a morte dele. Por conta disso, ele acabou enforcado em 23 de janeiro de 2022. O corpo foi encontrado sob o Viaduto da Vila Matilde, na zona leste da capital.
Passados quase três anos, a Polícia Civil de São Paulo não identificou os autores do assassinato de Django. O inquérito que apurava a morte dele foi arquivado. O crime segue impune.
Japa foi encontrado morto com tiro na cabeça no dia 4 de maio de 2023, dentro de um Toyota Corolla preto, blindado, no subsolo do edifício comercial Castelhana Offices, no Tatuapé. Minutos antes, ele havia mandado pelo celular uma mensagem para a mulher dele: "Cuida bem da nenê. Eu te amo".
O caso ainda é investigado. Alguns fatos intrigam as autoridades. O telefone celular de Japa, um Iphone 14, sumiu. No Corolla havia uma pistola Beretta, 9mm, com 16 cápsulas intactas e do lado de fora outra do mesmo calibre. O motor do veículo estava ligado e a porta do motorista aberta.
Lambança e pedido de prisão de morto
O DHPP também está na estaca zero em relação aos mandantes do assassinato de Gritzbach. Até o momento foram presos Matheus Augusto de Castro Mota, 34, acusado de dar fuga para Kauê do Amaral Coelho, 33, apontado como o olheiro que viu o empresário sair do terminal 2 do aeroporto e avisou os atiradores, e Matheus Soares Brito, 19, suspeito de ter dado fuga para Kauê até o Rio de Janeiro.
Brito garante que foi até o Rio de ônibus. Um dia antes da prisão dele, PMs da Rota, a pedido do DHPP, prenderam o irmão e o tio do rapaz. A família acusou os militares de" intrujar" munição de fuzis no veículo e numa moto deles. A Justiça mandou soltar ambos e considerou o flagrante ilegal.
Policiais civis classificaram a ação da Rota de lambança. Há informações também de que a força-tarefa liderada pelo DHPP para apurar a morte de Gritzbach teria pedido até mandado de prisão de um homem que morreu em 2011.
O departamento pediu depois as prisões temporárias de Diogo Santos do Amaral, primo de Kauê, e Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Bill ou Cigarreiro, investigados por suposta participação no sequestro de Gritzbach em janeiro de 2022.
3 comentários
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Luiz Santos
Logo logo vai acontecer o seguinte, com a Segurança Pública de São Paulo. Como o Governador não consegue resolver, e como bom bolsonarista que é, ele vai simplesmente TERCEIRIZAR. Como fez com a Saúde com as Organizações Sociais OS e com a Educação. Querem ver?
Antonio Jorge Chiade Merjam
Muito competente dna ivalda !!
Jose Vitorino Junior
Se não é a polícia federal,ia dar em nada