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Filhos de PM torturaram e mataram tenente aposentado em SP, diz polícia
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Violento, multirreincidente e ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Este é o perfil criminoso de Welington Aquino dos Santos, 35, o Salete, líder da quadrilha que torturou, sequestrou e matou o tenente aposentado da Polícia Militar, Ricardo Boide, 52, na noite do último dia 4, na Grande SP. Dois comparsas dele que participaram do crime são filhos de PM.
O bando invadiu a casa de Boide em Itapecerica da Serra. Quando os ladrões viram a farda do oficial passaram a torturá-lo com faca, coronhadas, choques, socos e pontapés na frente da família dele, porque a vítima era policial. Os criminosos o sequestraram e o mataram a tiros em uma área rural.
Quatro assaltantes foram presos, incluindo Salete. Dois deles são filhos de um sargento reformado da PM. Segundo investigações coordenadas pelo delegado Hélio Bressan, titular da Seccional de Taboão da Serra, dias antes de invadir a casa do tenente, o líder do bando havia comandado arrastões em dois condomínios no município vizinho de Embu das Artes.
No dia 29 de junho, Salete e o bando invadiram o condomínio Quinta da Cachoeira. A quadrilha, armada até de espingarda, entrou na casa 2, bateu no morador e aterrorizou os dois filhos menores. Foram roubados telefone celular, vídeo game, notebook, relógio de pulso, roupas e boné.
Tiro no rosto
Na casa de número 20, os criminosos agiram com mais violência ainda. O dono da residência, de 63 anos, tentou impedir a entrada dos ladrões e levou um tiro no rosto. Ele foi removido em estado crítico para o Hospital Regional de Cotia.
Parte dos assaltantes usava máscaras ninja. Além de roubar objetos de valor das residências, o grupo exigia dados bancários e senha das contas correntes das vítimas para realizar transferências via Pix pelo aplicativo do celular. Os criminosos utilizavam também maquininhas adquiridas em nome de "laranjas".
O bando fugiu assim que o morador foi ferido. Policiais militares foram acionados e prenderam Jhonatan de Souza Ferraz Paz, 27, o motorista que deu fuga para os comparsas. Uma das vítimas reconheceu Salete como o assaltante que o ameaçou de morte e o obrigou a fornecer a senha bancária.
Segundo a Polícia Civil, no dia 19 de junho, Salete e outros oito ladrões entraram no condomínio Jardim dos Ipês, também em Embu das Artes, e roubaram duas casas. As vítimas foram amarradas. O bando fez diversas transferências via Pix e levou joias, telefones celulares e objetos de valor.
Na fuga, os assaltantes se dividiram em dois veículos. Uma das vítimas, de 62 anos, foi feita refém e teve de dirigir a própria caminhonete. Ela acabou abandonada nas imediações da Rodovia Regis Bittencourt, onde pediu ajuda a uma pessoa que passava pelo local.
Ladrões são filhos de sargento da PM
Em todos esses arrastões, o bando de Salete se comunicava por telefone com outras comparsas e fazia inclusive chamadas de vídeos, mostrando imagens de vítimas sendo torturadas. Foi assim que os criminosos agiram na casa do tenente Boide.
O oficial foi muito torturado. Os criminosos o espancaram com um cassetete, o cortaram com a faca dele e lhe aplicaram vários choques com uma maquininha que carregavam. Os assaltantes usaram um cobertor para cobrir a cabeça das demais pessoas que estavam na casa.
A quadrilha transferiu em torno de R$ 100 mil das vítimas via Pix e roubou armas, joias e a aliança do PM. Boide, muito machucado e com o rosto sangrando, foi colocado no Corsa vermelho da enteada dele e levado como refém. O corpo foi encontrado em uma estrada a 1,5 km da casa onde morava.
Investigadores da equipe do delegado Pedro Buck, titular da Delegacia de Embu das Artes, realizaram várias diligências na região e prenderam Salete nas imediações da casa dele. O líder da quadrilha tentou fugir pelo telhado, mas foi alcançado e dominado.
Com eles, os policiais civis apreenderam a aliança e a faca roubadas do tenente. As vítimas dos arrastões nos condomínios de Embu das Artes também o reconheceram como um dos participantes nos assaltos violentos.
Além de Salete, a equipe de Pedro Buk prendeu os irmãos Alexandre Alencar Reif, 27, e Erick Alencar Reif, 26. Ambos são filhos de um sargento aposentado da PM, e, segundo a Polícia Civil, foram reconhecidos pelos familiares do tenente Boide como autores do roubo na casa dele. A pistola roubada do oficial foi apreendida na residência dos dois.
Presídios dominados pelo PCC
O quarto assaltante preso foi identificado como Jhonatan Santos do Vale, 26. As vítimas contaram à polícia que durante o roubo à casa do tenente, o ladrão retirou o capuz. Ele também acabou reconhecido sem sombra de dúvidas como um dos envolvidos no assalto.
Salete, o líder da quadrilha, já ficou recolhido em prisões dominadas por presos integrantes do PCC, como as Penitenciárias de Parelheiros e Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e de Junqueirópolis e Assis, na região oeste do Estado.
Em 16 de março de 2023, Salete foi beneficiado pela Justiça com a progressão para o regime aberto. Ele estava recolhido no CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Franco da Rocha. Contra ele havia dois mandados de prisões expedidos pela Justiça de Embu das Artes.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Welington, Erick, Alexandre e Jhonatan Paz, mas publicará a versão dos defensores de todos eles na íntegra, caso haja manifestação. O espaço continua aberto a todos.
A defesa de Jhonatan Santos diz que "a Justiça é o local adequado para se tratar das acusações apresentadas contra ele". Segundo os defensores, "no devido tempo será demonstrado que o suspeito não tem qualquer ligação com o que foi veiculado pela mídia".
Os advogados sustentam ainda que "é sabido que o prejulgamento carreado pela imprensa é capaz de destruir a vida daquele a quem são atribuídos os fatos e, portanto, forçoso que respeitem Jhonatan e os seus e que a Justiça faça o seu trabalho".
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