Josmar Jozino

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Sérvio preso pela PF foi detido dois meses antes pelo Deic em SP e liberado

Acusado de ser o dono de dez toneladas de cocaína com destino à Europa, o mafioso sérvio Aleksandar Nesic, 31, preso pela Polícia Federal no último dia 5 no Guarujá, Baixada Santista, havia sido detido dois meses antes por policiais civis na Vila Buarque, Centro de São Paulo, mas acabou liberado.

Na tarde de 4 de agosto, Aleksandar Nesic tomava cerveja em um bar na rua Martim Francisco, acompanhado de um compatriota de 45 anos e do amigo José Roberto de Santana, 58, até então foragido da Justiça e condenado a 7 anos e 3 meses de prisão pelo roubo de uma joalheria nos Jardins (SP) em 2017.

Policiais civis chegaram e deram voz de prisão a Santana. Ele e os dois sérvios foram revistados e conduzidos à sede do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), unidade de elite da Polícia Civil, no bairro do Carandiru, zona norte paulistana.

Os agentes cumpriram o mandado de prisão contra Santana. Ele passou por audiência de custódia, presidida pela juíza Fernanda Alonso de Almeida, e depois foi levado para o CDP-2 (Centro de Detenção Provisória-2) de Pinheiros, na zona oeste paulistana.

Aleksandar, filho do narcotraficante Goran Nesic, extraditado pelo governo brasileiro para a Sérvia em 2018, foi ouvido nas dependências do Deic, onde alegou que está no Brasil há 15 anos, morava em um apartamento no Morumbi, zona sul, é casado com uma brasileira e tem dois filhos.

O sérvio Aleksandar Nesic em foto que integra a investigação da PF
O sérvio Aleksandar Nesic em foto que integra a investigação da PF Imagem: Reprodução/PF

Mesada de R$ 15 mil

Segundo agentes do Deic, Aleksandar estava sem documento de identificação e "não soube informar qual era o meio de sobrevivência". Ele contou, porém, que recebia uma mesada de R$ 15 mil enviada pelo pai dele para um banco alemão no Brasil.

Com ele, os policiais apreenderam R$ 7.600 e dois telefones celulares. Aleksandar disse que o dinheiro era proveniente de uma pensão que havia recebido de sua madrasta brasileira. Acrescentou que conhece Santana há quatro anos e que o ajudava sempre que ele precisava.

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O outro sérvio portava R$ 3.153. Ele declarou que está no Brasil desde 2020 e recebe auxílio financeiro de seus familiares. Disse também que é amigo de Aleksandar e conhecia Santana havia três meses, mas não sabia do envolvimento dele com o crime.

Além do dinheiro, os agentes apreenderam um Hyundai HB-20 com o amigo de Aleksandar. O sérvio afirmou que comprou o veículo em julho deste ano em uma revendedora de carros usados e pagou R$ 55 mil. Ele teve o veículo devolvido por ordem judicial.

Ligações com o PCC

Os dois sérvios acabaram liberados porque não havia nenhum mandado de prisão contra eles. Mas, na quinta-feira passada, Aleksandar foi preso na Baixada Santista, durante a Operação Dontraz, deflagrada pela Polícia Federal. Foram detidas oito pessoas no Guarujá e duas na Praia Grande.

A operação também foi desencadeada no Paraná, em Santa Catarina, no Ceará e no Rio Grande do Norte. Segundo investigações, Aleksandar herdou os negócios ilícitos do pai, era um dos maiores narcotraficantes em atividade no Brasil, integra a máfia dos Bálcãs e tem ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

O bando passou a ser investigado em abril de 2022, quando um barco pesqueiro, de bandeira brasileira, foi interceptado em Cabo Verde, na Costa da África, com 5,5 toneladas de cocaína. Em agosto do ano passado, a PF apreendeu em Fortaleza mais 1,2 tonelada da droga.

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Já em setembro deste ano foram apreendidas 3,6 toneladas de cocaína em outro barco a 30 km da Costa de Recife. Cinco tripulantes brasileiros acabaram presos em flagrante. A PF suspeita que o dono da droga era o de Aleksandar.

O que diz a defesa do sérvio

João Batista Benedito Botelho, advogado de Aleksandar Nesic, disse que em relação à detenção do cliente por policiais civis em 4 de agosto deste ano, na Vila Buarque, o sérvio foi solto porque até então não havia nenhuma acusação contra ele.

Botelho explicou que o dinheiro e os telefones celulares apreendidos no Deic deverão ser restituídos em breve ao cliente, assim como o carro do compatriota de Aleksandar já foi devolvido por determinação da Justiça de São Paulo.

Já em relação à acusação de tráfico internacional de drogas, apresentada pela Polícia Federal, o defensor disse que o cliente não é mafioso, não tem ligação com facção criminosa e que a inocência de Aleksandar Nesic vai ser devidamente comprovada durante o curso processual.

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